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O PAPEL DO BNDES
Os investimentos na economia brasileira caíram de 22,5%
do PIB em 1995, no auge do Plano
Real, para 17% em 2003, um dos níveis mais baixos da história recente,
resultando em deterioração da competitividade do sistema produtivo e
da infra-estrutura econômica.
Alguns analistas estimam que os
gastos para recuperação e ampliação
da infra-estrutura, incluindo o saneamento, exigiriam algo entre 6% e
8% do PIB. Isso significaria de R$ 78
bilhões a R$ 104 bilhões/ano. Os investimentos públicos atuais não passam de R$ 37 bilhões ao ano, sendo
R$ 30 bilhões das empresas estatais e
R$ 7 bilhões do Orçamento. Apenas
a área de telecomunicações e alguns
segmentos de energia e transportes
têm contado com fontes privadas.
Uma das principais causas desse
cenário é o crédito bancário caro e escasso. As transações dos bancos comerciais estão concentradas em títulos da dívida pública, com alta rentabilidade e baixo risco. O giro e o estoque dessa dívida estabelecem um patamar elevado para as taxas de juros.
Em outubro, a taxa média para operações de crédito para empresas era
de 32,5%, e o prazo médio, de 172
dias, segundo os dados mais recentes do Banco Central. Note-se que o
mercado de capitais também financia pouco o investimento. Em 2003,
o índice Ibovespa teve valorização
acima de 80%, mas as emissões de
novos títulos e ações foram fracas.
É nesse contexto que se coloca a
discussão sobre o papel e a restruturação do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social). Como banco público de fomento, ele tem obrigação de operar
dentro dos limites da prudência bancária, bem como garantir uma rentabilidade mínima para o seu capital.
Todavia sua função não deve levá-lo a
praticar uma maximização de lucros
nos moldes de um banco de investimento privado. Há projetos essenciais de longa maturação e de incorporação de novas tecnologias -nas
indústrias de software e farmacêutica, por exemplo, destacadas na política industrial- que exigem outras
formas de atuação.
Há informações de que o BNDES
vem promovendo ajustes internos
para recuperar sua capacidade de financiar o desenvolvimento. Uma das
alterações, que aparentemente tem
gerado resistências em segmentos
do setor bancário, é a redefinição do
papel dos agentes financeiros nas
operações do banco. A idéia é aprofundar o uso da rede de bancos comerciais para alcançar as pequenas e
médias empresas. Já para as grandes
empresas, o acesso aos empréstimos
seria direto -o que contraria interesses e talvez explique parte das críticas à direção da instituição. Com
esse novo procedimento, o banco
procura reduzir os custos de transação de seus empréstimos e aumentar
a rentabilidade dos projetos.
Os créditos do BNDES representam 21,5% do total nacional. O banco prevê emprestar R$ 47 bilhões em
2004. Além disso, a instituição tem
boa capacidade de alavancar recursos, quer diretamente, quer em operações de co-financiamento. Num
país em que o mercado financeiro
ainda não consegue financiar empreendimentos de longo prazo a taxas adequadas, o papel do BNDES
como banco de fomento é indispensável, devendo ser preservado.
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