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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Brasil: chega de cassinos!
Vira e mexe, defrontamo-nos
com a questão do jogo. Sei que o
tema é polêmico. Há quem o defenda
como se fosse um grande gerador de
empregos. Não compartilho dessa
idéia.
Dentro de minhas limitações, tenho
pesquisado o assunto. Os dados que
coletei convenceram-me de que o jogo
nunca vem sozinho; ele é sempre
acompanhado de criminalidade, de
droga, de alcoolismo, de prostituição e
de corrupção.
Veja o escândalo da última semana.
Por meio dele, o Brasil tomou conhecimento de uma verdadeira invasão
de máquinas caça-níqueis e salões de
bingos, que, para existirem e se multiplicarem, entram de peito aberto no
campo da corrupção, reafirmando a
íntima relação que existe, com honrosas exceções, entre agenciadores do
jogo e agenciadores da política.
O jogo gera graves problemas sociais, contra os quais as comunidades
têm de gastar vultosos recursos nos
campos da saúde, da polícia e da justiça. Além disso, o jogo é injusto. A proporção da renda gasta pelos mais pobres é muito mais alta do que a dos ricos. Os jogadores mais assíduos e imprudentes são os de menor renda.
Fico preocupado ao saber que o governo estaria pronto para legalizar os
bingos e os caça-níqueis -ao lado de
tanto jogo que já está legalizado (raspadinhas, loteria esportiva, loto, sena,
concursos de TV e tantos outros).
Além deles, há os carteados, os jogos
de azar ilegais, os cassinos clandestinos, que se multiplicam à luz do dia.
Estão aí também o caso do jogo do bicho e o das roletas.
O Brasil está se transformando no
paraíso do jogo. Se o governo e os parlamentares de Brasília estão realmente
interessados em criar postos de trabalho, conviria a eles considerarem alternativas que tenham efeitos secundários menores do que os do jogo. Refiro-me à expansão da agricultura, do
comércio, da indústria, da educação,
da saúde e de tantos outros serviços
que abrem postos de trabalho sem
criar problemas de segunda geração.
Refiro-me ainda àquela reforma tributária que não foi feita e que visava
aliviar a carga, e não aumentá-la. Refiro-me, finalmente, às reformas previdenciária e trabalhista, que têm de ser
concluídas.
Isso, sim, pode gerar empregos -e
empregos sadios-, e não a jogatina.
O jogo não escolhe vítimas. Quem dele se aproxima, é atingido em cheio,
ora perdendo seus recursos, ora destruindo os costumes e seus valores éticos e morais e gerando uma imensidão de problemas de difícil e dispendiosa solução.
O jogo é de grande utilidade para
enriquecer seus patrocinadores -e só
isso, nada mais do que isso. Oxalá os
senhores governantes levem em conta
tais princípios para implantar no Brasil uma grande campanha de combate
ao jogo, e não de apoio a ele.
O Brasil precisa de mais produção e
de menos cassinos!
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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