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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
11 de setembro e o inferno americano
Para descrever os pavorosos
acontecimentos do dia 11 de setembro de 2001, a revista "The Economist" fez uma capa, na época, com os
seguintes dizeres: "O dia em que o
mundo mudou".
Guardei a publicação com o pressentimento de que, realmente, o mundo não seria mais o mesmo. No dia do
terror, o presidente George W. Bush
declarou: "O ataque ao Pentágono e
ao World Trade Center foi um ato de
guerra e será tratado como tal". Dali
para a frente, ninguém mais teve sossego.
O dia 11 de setembro de 2001 será
lembrado para sempre. Quanto mais
o tempo passa, maior é a indignação
dos americanos, que, como o resto do
mundo, assistiram pela televisão à
destruição dos seus principais símbolos e de milhares de inocentes, realizada com aviões comerciais do próprio
país. Uma ousadia impensável!
Quanto mais o tempo passa, maior é
também a perplexidade dos EUA,
que, apesar de todo o seu poderio bélico, não conseguiram capturar os autores intelectuais do plano sinistro.
O sentimento de perda se associou
ao sentimento de impotência. É como
se os franceses tivessem testemunhado pela televisão o desmonte simultâneo do museu do Louvre e da Torre
Eiffel e a matança de milhares de vidas
sem nada poder fazer e sem conhecer
o autor de tamanha maldade.
O ato não tem precedente histórico.
Jamais uma agressão tão devastadora
ficou anônima por tanto tempo. A paz
tornou-se uma palavra vazia, porque
os americanos ficaram sem condições
de sentir a paz interior.
Paz não é ausência de guerra. É sentimento de segurança pessoal. Aquele
ato, adicionado a razões de ordem
econômica, fez o presidente Bush partir para uma agressão.
O propósito de toda guerra é restaurar a paz. Será que isso vai ocorrer?
As guerras são deflagradas por defesa contra uma agressão praticada ou a
ser praticada. No caso em tela, uma
grave agressão foi consumada, mas
seus autores não foram identificados.
Por sua vez, a futura agressão, que é tida como certa, se choca com a identificação das armas do inimigo.
A lógica daria pleno apoio a um ato
de autodefesa em relação ao terror de
11 de setembro, que entretanto não
pôde ser realizado devido ao anonimato dos autores. E agora?
A mesma lógica dará apoio à agressão em curso se Bush provar o perigo
anunciado. Essa é a grande questão.
Ele terá de encontrar no Iraque o que
os inspetores da ONU não encontraram.
Se encontrar, as críticas contra ele
serão amenizadas, e a ONU será desmoralizada. Se não encontrar, ou se
inventar motivos, estaremos diante de
um cenário terrível -o de uma guerra motivada por raiva descontrolada
ou por motivação econômica injustificada, que será condenada por toda a
humanidade. Realmente, o mundo
mudou depois de 11 de setembro de
2001.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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