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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
A difícil administração do ambiente
De um modo geral, as discussões
sobre a proteção do ambiente
têm gerado mais calor do que luz. O
tema possui uma dimensão técnica e
outra política. A política tem prevalecido sobre a técnica. Daí porque os debates têm sido de pouca utilidade para
a sociedade -embora de enorme valia para quem manipula um problema
real para projetar imagens irreais.
Estou lendo com muito vagar o livro
organizado por Jonathan H. Adler,
"Ecology, Liberty and Property", publicado pelo Competitive Enterprise
Institute, New York, 2000. É uma obra
de grande densidade de dados, de
idéias e de propostas.
O equacionamento dos problemas
ambientais é muito mais complexo do
que aderir ou não ao Protocolo de
Kyoto ou contribuir com as ONGs que
organizam passeatas de protesto contra quem polui a natureza.
Visto ser impossível eliminar de
imediato todas as formas de poluição,
pergunta-se: Qual delas é prioritária?
Será que a medida que ocupa o primeiro lugar nos Estados Unidos ocupará a mesma posição na África, na
América do Sul, na Ásia, na Oceania
ou no planeta como um todo?
É claro que não. Para os africanos,
por exemplo, o mais urgente é acabar
com as epidemias, com a erosão dos
solos e com a contaminação da água.
Para os americanos, a urgência recai
sobre a eliminação dos resíduos químicos, em especial os das partículas de
carbono, e dos vazamentos de petróleo e sobre a conservação da camada
de ozônio.
Se há essa enorme diferença, quem
tem razão? Todos. Cada continente,
nação ou região possui fundadas razões para priorizar essa ou aquela dimensão.
Se assim é, quem vai decidir em que
despender os recursos para conservar
a natureza? Vamos voltar ao planejamento centralizado? Será que uma comissão multinacional de especialistas
resolverá o problema? E se partirmos
para um plebiscito para cada tema? E
quando surgirem novos focos de poluição, iremos repetir o processo? Isso
é viável? Já há alguma experiência piloto bem-sucedida?
Temos de ser francos. Os seres humanos sabem como sujar a natureza,
mas ainda não têm o menor desejo de
limpá-la com equidade e racionalidade. É muito fácil fazer marolas demagógicas e explorar a ingenuidade dos
que acreditam no desgastado refrão
da "vontade política".
Os problemas ambientais são sérios
demais para serem politizados ou tratados com slogans baratos que atingem em cheio a emoção e passam longe da razão. A planificação centralizada foi um dos maiores fracassos da
humanidade. Não conseguiu sequer
desenvolver umas poucas nações que
se abrigaram na cidadela da Cortina
de Ferro. Os dados mostram que, em
relação ao lado ocidental, a ex-Alemanha Oriental gastava mais do triplo de
energia para a mesma unidade de PIB.
A Coréia do Norte consome 70% a
mais do que a Coréia do Sul em termos de energia per capita. A planificação centralizada não estimula os cidadãos a criar novas formas de energia e
de preservação da natureza.
Mas os Estados Unidos também foram levados a adotar soluções distorcidas ao aprovar de forma apressada
leis federais sobre o controle das
águas, da chuva ácida, da poluição sonora, da camada de ozônio etc. Essas
leis exigiram uma enormidade de recursos, cujo retorno é comprovadamente negativo. Esse será o tema do
meu próximo artigo.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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