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KENNETH MAXWELL
Idade e experiência
NÃO É POLITICAMENTE correto falar sobre idade. Mas
tanto idade quanto raça são
ainda assim questões importantes
na eleição presidencial dos EUA.
Só conheci dois senadores norte-americanos pessoalmente. Um deles continua em atividade, e por isso não vou mencioná-lo pelo nome.
Nosso breve encontro aconteceu
mais de 20 anos atrás, no Aeroporto Dulles, em Washington, DC. No
começo, eu não sabia com quem estava falando, porque o senador em
questão parecia muito pequeno, e
nem de longe se assemelhava ao dinâmico interrogador que eu havia
visto na televisão. Eu tinha perguntado se estávamos no elevador certo para o saguão. Essa simples pergunta pareceu deixá-lo perplexo, e
ele começou a olhar em volta, em
pânico, procurando pelos assessores, que chegaram e levaram o espantado senador para um lugar seguro, onde ele estivesse protegido
contra uma simples pergunta.
O segundo encontro aconteceu
no Haiti, então governado por
"Baby Doc", no começo dos anos
70. Na época, o país virtualmente
não recebia visitantes estrangeiros. Mas terminei por encontrar o
senador Barry Goldwater num restaurante de Pétionville. Goldwater
foi candidato à Presidência e fundador do movimento conservador
moderno dos EUA. Àquela altura, o
senador estava quase paralítico.
Olhando para mim (então relativamente jovem, e de cabelo comprido), ele disse: "Você deve me considerar um fascista". Eu respondi, de
fato, que sim, era o que eu pensava.
"Bom", ele rebateu, "porque eu
presumo que você seja comunista".
Com isso, almoçamos juntos e tivemos uma ótima conversa.
Quando estávamos esperando o
café, chegou um grupo de soldados
de Baby Doc, armados de metralhadoras. "Maldição", resmungou
Goldwater de modo quase inaudível: "Deus me proteja dos meus
protetores". Mas ele se levantou
lentamente, ordenou que o líder
dos soldados os alinhasse e que eles
apresentassem armas para inspeção. Ele os inspecionou, saudou e
dispensou. O truque deu certo.
Tudo isso me faz pensar no senador John McCain. O problema dele
com o eleitorado é sua idade, 72
anos, que ele vende como "experiência", em contraposição à juventude (46 anos) do senador Barack Obama e sua falta de "experiência". No que tange às questões
de segurança nacional, a estratégia
parece ter funcionado até o momento; McCain está bem adiante
de Obama nas pesquisas quando o
assunto é determinar quem seria o
melhor comandante-em-chefe para as Forças Armadas. Mas a verdadeira questão é o que a longa experiência legislativa de McCain implica. Será que ele se perderia diante de uma pergunta simples, como
o senador no elevador, ou seria ele
mais parecido com Goldwater:
mente veloz apesar do corpo lento?
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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