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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
A energia e o equilíbrio mundial
Os historiadores devem estar
estupefatos de ver que, depois de
tanto esforço em favor da paz -com
o fim da Guerra Fria, o reatamento das
relações entre os Estados Unidos e a
ex-União Soviética-, o mundo abriu
as cortinas do século 21 com a mais
terrível escalada de atos de terrorismo,
que destroem vidas, princípios e economias.
Quando o terror chega perto de nós
-como foi o caso do covarde assassinato do nosso irmão, o embaixador
Sérgio Vieira de Mello, e dos seus colegas que estavam trabalhando no edifício da ONU em Bagdá -, sentimos
mais fundo a gravidade da insegurança mundial.
Escrevi várias vezes nesta coluna sobre os propulsores que me pareciam
mais prováveis da Guerra do Iraque. A
questão energética sempre esteve na
frente. O mundo enfrenta uma séria
crise nesse campo, sendo que os Estados Unidos, em particular, entram na
faixa crítica. Infelizmente, o que previ
naqueles artigos acabou acontecendo
antes do esperado. O "megapagão" do
último fim de semana é um pequeno
sinal da gravidade da crise energética
americana. Nos diagnósticos sobre o
determinante do problema, não faltam especulações políticas e exploração eleitoral.
Penso, porém, que a causa é mais
simples. O país apagou porque faltou
energia, só isso. O blecaute decorreu
da queda do sistema, em razão de sobrecarga. Os EUA têm apenas 5% da
população mundial e consomem um
terço da energia do planeta! Suas reservas de petróleo (2% do total mundial) caem dia a dia, enquanto o consumo aumenta. A situação é crítica.
A maioria das nações não está
aguentando manter a infra-estrutura,
a produção e as demais atividades
econômicas e humanas com a energia
que tem. O petróleo ainda representa
40% da energia utilizada no mundo.
Até 2020, o consumo saltará dos atuais
85 milhões de barris/dia para 110 milhões/dia, ou seja, de 31 bilhões/ano
para 40 bilhões de barris/ano, lembrando-se que o mundo subsidia os
combustíveis fósseis com US$ 150 bilhões por ano.
Até 2020, o mundo terá devorado
800 bilhões de barris, sobrando outros
800 bilhões. Esse cálculo se baseia em
um crescimento do PIB da ordem de
2% ao ano. Se o mundo passar a crescer 3% -o que é desejável-, as reservas darão para chegar apenas até 2030.
Trata-se de uma situação aflitiva. Os
países que dependem do petróleo acusam os países árabes, onde há a maior
concentração dele, de possuírem "armas de destruição em massa". E têm
mesmo -é o próprio petróleo. Se eles
deixarem de produzir o que produzem, podem provocar o extermínio
em massa dos que dependem do ouro
negro, o que provoca mais reações.
A história do mundo parece marcada. A escassez de energia será o combustível dos próximos conflitos e da
escalada do terrorismo contra os que
trabalham pela paz, como o nosso
querido embaixador Vieira de Mello.
Ele foi vítima da guerra energética, como milhões de outras. O encontro de
fontes alternativas de energia é, literalmente, uma questão da mais alta importância e de enorme dificuldade.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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