São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A razão vencerá o terror PAULO SÉRGIO PINHEIRO
Na entrada monumental da antiga sede da Sociedade das Nações,
em Genebra, a fileira de mastros está
sem as bandeiras dos 192 países. Lá no
telhado tremula, solitária, a bandeira
azul da ONU, a meio pau. As rádios e televisões repetem implacavelmente que
Sérgio Vieira de Mello se foi. Que triste
sina, diz a balada de W.H. Auden, "morrerem entre nós os que estavam fazendo
algo de bom, sabendo que nunca era o
bastante, mas que esperavam melhorar
a existência na Terra. Façam os cachorros pararem de latir, cubram-se todas as
lâmpadas com crepe, que o indecente
céu azul espetacular sobre o lago Leman
se escureça".
Não há a menor dúvida de que os EUA e o Reino Unido, com seus aliados, ao passarem ao largo do Conselho de Segurança, contribuíram para pôr em xeque a autoridade das Nações Unidas. Mas é história passada. Hoje o grande problema é que essas mesmas potências ocupando o Iraque continuam se recusando a atribuir à ONU uma presença mais decisiva na reconstrução do país. Ao se cercear a ONU, inviabilizam-se ações que respondem aos objetivos da luta pela paz e pelo Estado de Direito, lesando interesses não somente da comunidade internacional, mas dos próprios EUA. A série rotineira de atentados terroristas no Iraque tem demonstrado que um exército de 170 mil homens está fadado a ficar inerme (sofrendo baixas) diante da guerrilha e dos terroristas. Cada dia da ocupação norte-americana e britânica do Iraque torna mais evidente não haver outra solução para o impasse naquele país que não a intervenção efetiva da comunidade internacional, sob a égide da ONU. A esperança é que esse atentado possa servir para motivar os EUA e, especialmente, o presidente Bush a fazerem uma profunda reflexão sobre o que a política de seu governo tem feito em relação à ONU. Está patente que qualquer iniciativa que vise enfraquecer a ação da ONU fragiliza o mundo. Apelemos com grande clareza e franqueza aos nossos amigos norte-americanos: não se enganem, o alvo visado pelo atentado que matou Sérgio não era ele, nem principalmente a ONU, mas os EUA. Na impossibilidade de atacar os edifícios muito bem protegidos da administração norte-americana, os criminosos terroristas preferiram um alvo mais fácil, um prédio sem nenhuma proteção externa. Premonitoriamente, fazia poucos dias, Sérgio Vieira de Mello dizia, perante o Conselho de Segurança, em Nova York: "A presença da ONU no Iraque continua vulnerável a quem quer que queira atacar nossa organização". Fez muito bem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em determinar três dias de luto pela morte desse brasileiro exemplar, deixando claro o compromisso de seu governo e do Brasil com a luta pelos direitos humanos e pelos sem poder. A melhor resposta aos terroristas é continuarmos as generosas lutas de Sérgio. Consolidar e apoiar sem hesitação a ampliação da ação da ONU, afirmar sua presença no Iraque, continuar a luta pelos direitos humanos, fazer a razão prevalecer sobre terror. Paulo Sérgio Pinheiro, 59, é expert independente das Nações Unidas para a Violência contra a Criança. Foi secretário de Estado de Direitos Humanos (governo Fernando Henrique). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Geraldo Alckmin: Pode entrar que a escola é sua Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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