São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2008

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Brasil precisa ser um centro financeiro global

GILBERTO MIFANO


Transformar o Brasil num pólo de transações financeiras é mais do que possível e traria um impacto extremamente positivo


NOS VAGÕES do metrô de Londres, há anúncios de imóveis à venda na França, na Itália e até no Caribe. E não é à toa, pois, tomada a decisão, nem é preciso sair da capital britânica para fazer a compra. Ali há escritórios que dispõem de especialistas em condições de concretizar o negócio com toda a segurança legal e financeira para o comprador e para o vendedor. Estando em São Paulo, no Rio de Janeiro ou em outra metrópole brasileira, é possível adquirir com a mesma facilidade um imóvel em Buenos Aires, na Argentina? Provavelmente, não.
Esse é apenas um exemplo da facilidade de fazer negócios em Londres e que a torna um centro financeiro global, mas que as grandes cidades brasileiras não oferecem. Por propiciar a realização de uma imensa gama de operações e de valores variados a partir de instituições financeiras e empresas prestadoras de serviços especializados sediadas na cidade, a condição de centro financeiro internacional de Londres traz muitas vantagens para seus moradores e para toda a Inglaterra: mais empregos, mais renda, mais impostos -em resumo, crescimento seguro e ambientalmente saudável.
No resto do mundo, só Nova York compete com Londres na disputa pelas grandes operações financeiras internacionais. Mas, em muitos outros países, incluídos alguns em desenvolvimento, há centros financeiros internacionais importantes. Eles não concentram tantos negócios e serviços como Londres e Nova York, mas têm grande influência sobre o desempenho das economias nacionais. Os estudos mais recentes sobre esses centros não incluem nenhuma cidade brasileira. Isso, porém, pode mudar. Transformar o Brasil num pólo de transações financeiras para atender a uma região que inclua, por exemplo, os países sul-americanos e, quem sabe, os sul-africanos, é mais do que possível e traria um impacto extremamente positivo sobre o desempenho da economia e a qualidade de vida dos brasileiros.
Com a maior economia da América Latina, o Brasil dispõe de um sistema financeiro sofisticado, que utiliza intensamente tecnologia de ponta, acelerando e dando segurança às operações com o emprego de sistemas sofisticados de regulação, auto-regulação e controle de risco. Nos últimos anos, o Brasil desenvolveu um mercado financeiro e de capitais que oferece uma variedade de produtos de alta complexidade, atrativa não só para investidores domésticos mas também internacionais, como prova o grande afluxo de capitais nas recentes ofertas públicas de ações (IPOs, na sigla em inglês).
A recente fusão entre a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) e a BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), que resultou na BM&FBovespa SA -entre as quatro maiores Bolsas do mundo (e a segunda das Américas) em valor de mercado, concentra 80% do volume de negócios com ações da América Latina-, é outro fator que fortalece o projeto de criação de um centro financeiro internacional no Brasil.
Mas há muitas outras condições que precisam ser preenchidas para alcançar esse objetivo. Algumas são óbvias, como a disponibilidade de infra-estrutura de alta qualidade em comunicações e transportes, segurança, oferta adequada de serviços, além da mão-de-obra preparada para desempenhar as novas tarefas. Outras, menos intuitivas, mas igualmente importantes, demandam ambiente legal favorável aos negócios, sistema regulatório avançado e estável, liberdade para movimentação de capitais e mercado de trabalho flexível.
Por tudo isso, a criação de um centro financeiro internacional no Brasil é tarefa que exige a ação conjunta e articulada da iniciativa privada e do poder público, em seus diversos níveis. Qual a melhor região para sediar esse centro? Não há nenhuma dúvida de que é o eixo São Paulo-Rio de Janeiro, que concentra as operações financeiras no país.
A BM&FBovespa, em conjunto com a Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento) e a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), tomou a iniciativa de fazer as sondagens iniciais para um projeto de cunho coletivo que visa justamente à criação de um centro financeiro internacional -um primeiro passo, já em andamento, é discutir esse tema com os principais candidatos a prefeito de São Paulo e do Rio.
Queremos sentir deles a receptividade à idéia e ouvir seus planos que possam transformar em realidade esse potencial acumulado ao longo das últimas décadas para sermos o centro financeiro desta parte do mundo.


GILBERTO MIFANO é presidente do Conselho de Administração da BM&FBovespa SA.

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