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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Brasil: uma matriz energética exemplar
Na última quarta-feira, tive a
honra de conversar com o presidente Lula sobre o assunto que mais
interessa aos brasileiros: a expansão
da produção e do emprego.
Entre os temas tratados, despontou
a questão da energia, em especial a eletricidade. Os jornais dizem que está
sobrando eletricidade, o que teria causado a crise do setor. Penso o contrário. No Brasil não sobra eletricidade,
falta crescimento. As melhores estimativas indicam que o país irá crescer
apenas 1,5% em 2003, o que não dará
para empregar a metade das pessoas
que precisam trabalhar.
O grande desafio é chegar aos 4%,
5% ou 6% ao ano. Mas, se isso acontecesse hoje, o crescimento seria travado
por falta de eletricidade. Voltariam os
blecautes.
Ao mesmo tempo, dispomos de
uma das melhores matrizes energéticas do mundo. Somos um dos poucos
países que podem explorar alternativas não-poluentes, como as energias
hídrica, eólica e solar e o álcool.
O avanço na energia hídrica está
sendo impedido em grande parte pelos excessos de burocracia que cercam
as exigências ambientais. É claro que a
construção de uma usina elétrica em
um rio afeta o ambiente. Mas a reparação disso faz parte do próprio projeto.
É inadmissível que se pare de construir usinas hidrelétricas por causa de
fantasmas criados por quem nos leva
à estagnação.
No caso da energia eólica, há ainda
problemas técnicos que exigem investimentos em pesquisa. O mundo subsidia os energéticos fósseis (petróleo,
carvão e gás) em, no mínimo, US$ 200
bilhões anuais. Está na hora de direcionar alguns recursos para as fontes
alternativas, pois, mesmo com pouca
pesquisa, elas já se mostram promissoras.
O uso adequado dos ventos do mundo, por exemplo, está permitindo uma
produção de eletricidade equivalente
a duas vezes a de Itaipu! Isso é animador. O custo da energia eólica, que já
era baixo, caiu 20% nos últimos cinco
anos. Os progressos técnicos são notáveis. Já se produzem geradores de
5.000 quilowatts a 30.000 quilowatts,
que funcionam no mar e na terra, para
bem aproveitar os ventos do mundo.
E, quando faltam ventos, estudam-se
os sistemas híbridos, que usam o álcool, o carvão e, em última instância, o
petróleo (Janet Sawin, "Charting a
New Energy Future", 2003).
A Alemanha e a Dinamarca acumularam uma preciosa experiência nesse
campo. Entre 1990 e 2000, os preços
das turbinas eólicas caíram em quase
50% -e isso vai continuar. A produção desse tipo de energia avançará rapidamente.
O Brasil acertou no encontro de Johannesburgo, em 2002, quando tentou estabelecer uma meta de produção de energias alternativas para todo
o planeta. Foi voto vencido. Mas isso
não impede que avancemos com nossas próprias pernas no campo dessas
alternativas, o que é fundamental para
chegarmos a um crescimento de 4%
ou 5% ao ano -usando cerca de 60%
de energia renovável.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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