São Paulo, terça-feira, 25 de outubro de 2011

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ELIANE CANTANHÊDE

Porteira fechada

BRASÍLIA - "Verticalidade", "porteira fechada" e "feudo" significam que um partido se apossa de um determinado ministério (e até mesmo de um setor inteiro) de cima a baixo, ou de cabo a rabo, e tudo vira sinônimo de "caixa-preta".
O PR nos Transportes, o PC do B no Esporte, o PMDB no Turismo e na Agricultura, o PDT no Trabalho e o partido do Sarney no Minas e Energia passam a ser células independentes dentro do governo. Nem o presidente, ou a presidente, têm real controle do que se passa na pasta.
É como se uma fatia do Orçamento, às vezes até bastante polpuda, ganhasse vida e destino próprios, usada ao bel-prazer dos ministros e dos seus assessores "verticalizados". Daí à corrupção é um pulo.
Como chefe da Casa Civil do governo Lula, Dilma sabia ou deveria saber disso como ninguém. Nem ela, a gerentona, escancarava as "porteiras fechadas". O resultado está aí, quase aritmético: dos cinco ministros que caíram (até o fechamento desta edição...), quatro foram acusados de desvios para partidos, empresas-fantasmas, parentes, ONGs. A sensação é a de que cada um fazia o que queria. Ficou tão fácil que todos foram afrouxando os pudores e cuidados e acabaram flagrados.
Para tentar "horizontalizar", "abrir as porteiras" e dizimar "os feudos", Dilma tem se valido das denúncias que saem aos borbotões na imprensa e reage com um expediente infalível: enfraquece o ministro aos poucos, retira-lhe poderes, exige a demissão de assessores.
O foco está agora no Esporte, mas quem olhar em volta vai ver que Trabalho, entre outros, não está passando incólume. Toda a Esplanada dos Ministérios está de barbas de molho.
"Verticalidade", "porteira fechada" e "feudo", afinal, contrariam frontalmente o que se espera -ou se exige- da administração pública: legalidade, probidade e impessoalidade. Além de competência, que é elementar, mas o que menos se busca e vê.

elianec@uol.com.br



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