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CARLOS HEITOR CONY
O neo-arrastão
RIO DE JANEIRO - Benedita da Silva era candidata a prefeita e liderava as
pesquisas com enorme vantagem sobre os demais concorrentes. Na manhã de um domingo, foi promovido,
nas areias do Arpoador e de Ipanema, o primeiro arrastão devidamente documentado por equipes de TV
que, desde cedo, estavam montadas
em três pontos diferentes, duas no
calçadão e uma na própria areia, voltada por acaso para o ponto de partida do arrastão. Uma produção perfeita, um embrião dos futuros shows
da realidade.
Não houve vítimas. Alguns desmaios e duas ou três pessoas machucadas pelo tumulto que se seguiu. As
imagens foram mostradas ""ad nauseam" aqui e no exterior. Benedita
caiu da liderança, seguiram-se arrastões menores, e ela não foi eleita. A
elite branca, bem-nascida e bem-intelectualizada do Rio não queria ter
uma ex-favelada negra e do PT como
prefeita.
Passou o tempo e tivemos uma espécie de arrastão incruento, com
mais de 300 disparos de armas sofisticadas contra a sede da Prefeitura do
Rio. Pela hora do atentado, a finalidade não era fazer vítimas, mas apenas assustar, mostrar que a situação
ficou fora do controle do Estado legal,
no caso, o Estado agora governado
pela ex-favelada negra do PT.
As suspeitas recaem, obviamente,
sobre o crime organizado, que realmente criou um poder paralelo nas
ruas do Rio. Acontece que um atentado com a carga simbólica do de anteontem transcende ao crime organizado, ao poder paralelo. É um recado
político que, atingindo um emblema
do poder legal (a sede de uma prefeitura que nem sequer é dirigida por
um petista), procura intimidar o eleitorado miúdo, do cidadão comum.
O eleitorado graúdo, este já está suficientemente atemorizado pelo risco
Brasil, pelo dólar em alta e pelas
ameaças da ingovernabilidade de
um sistema de forças políticas desvinculado do Consenso de Washington.
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