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MELCHIADES FILHO
Piá curitibano
BRASÍLIA - "Alô, dona Maria,
aqui é da prefeitura. A senhora ficou satisfeita com a poda da árvore
em frente à sua casa? E seu marido?
Recebeu o remédio? Por favor, em
nome do prefeito, dê parabéns à sua
filha por ter passado de ano."
Numa era em que política, administração pública e atendimento ao
consumidor dividem o pódio do
descrédito, é difícil reagir com indiferença a um telefonema desse.
A Prefeitura de Curitiba tem à
sua disposição um arquivo digitalizado com as queixas da população,
fichas do serviço de saúde, ocorrências policiais, matrículas na rede de
ensino e toda ação social e obra municipal, do tapamento de um buraco à troca de lâmpada de um poste.
Desenvolvido por uma empresa-ONG chamada ICI, o programa faz
dez anos na semana que vem.
Mas foi na gestão do tucano Beto
Richa, em 2005, que surgiu a maior
novidade: uma sala de situação,
com telões e computadores. Nela,
pode-se estudar as demandas declaradas (reclamações) e consumadas (atendimentos) dos curitibanos, recortá-las por região e até
mesmo individualizá-las. Em tese,
basta clicar em um endereço para
descobrir a relação de seus moradores com o poder público. Imagine só
o potencial de telemarketing.
Os números incríveis de Richa no
último Datafolha (72% de intenção
de voto) no mínimo guardam relação com esse jeito "online" de governar -que, ressalte-se, dá ao Executivo a possibilidade de prescindir
de um meio-campo (imprensa, associações de bairro, vereadores) e
fazer ligação direta com o eleitor.
Por isso o cadastro eletrônico é
uma ferramenta formidável de
campanha também. Permite mapear carências e adequar promessas. Saber que ruas tomar ou evitar.
(Nas outras duas capitais que
usam o software do ICI, Vitória e
Teresina, os prefeitos igualmente
são favoritos a um novo mandato.)
Alheia a isso tudo, a Justiça Eleitoral se preocupa em proibir vídeos
de candidatos no Youtube...
mfilho@folhasp.com.br
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