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GUSTAVO FRANCO
O problema dos juros
ENGANA-SE quem acha que a
comunidade dos economistas, a começar pelos de formação e persuasão convencional, está
satisfeita em ver o Brasil na vergonhosa posição de campeão mundial de juros.
Ao contrário, o grande desafio da
profissão, nos dias que passam, é
justamente o de criar as condições
para que o Brasil pratique taxas de
juros normais, de um dígito, em
conseqüências das quais o país
possa ter taxas de crescimento
substancialmente maiores que as
de hoje. E tudo começa pelo diagnóstico.
Este desafio é semelhante em
muitos aspectos ao que, no passado, era oferecido pela hiperinflação. Talvez seja, inclusive, um prolongamento deste.
Uma dessas semelhanças tem a
ver com ilusões sobre a existência
do problema e sobre a facilidade da
solução. Tal como no caso da hiperinflação, não devemos nos conformar com a idéia que a inflação alta,
e os juros altos, não machucam, ou
que são parte da "normalidade".
Porém, disso não se segue que
existe uma solução fácil para o problema, de natureza administrativa,
que demora a ocorrer por conta da
escassez de heróis ou do excesso de
crueldade.
Era errado pensar que a inflação
se resolvia com a simples decisão
de interromper a impressão de papel pintado, ou com algum "truque
inteligente" para se eliminar a
"inércia".
É igualmente tolo imaginar que
uma "canetada" do presidente do
Banco Central pode trazer a taxa
de juros para 6% anuais. E que,
aproveitando o mesmo decreto, se
poderia fixar logo o câmbio num
nível em que ninguém se queixe de
"populismo cambial".
Seria ótimo que fosse tão fácil.
Todos os que passaram pelo BC,
sem exceção, adorariam ter esses
super-poderes. Como seria bom se
políticos e burocratas bem intencionados pudessem revogar as leis
da economia para fazer o Bem!
O fato é que existem fatores objetivos que dão limites muito claros ao que o BC pode fazer com juros e câmbio. Estamos falando aqui
principalmente de leis da economia, ou dos chamados "fundamentos", mas também de determinações próprias da democracia, como
as que resultam das determinações
do presidente da República sobre a
meta de inflação que o BC deve
perseguir.
Mas, independentemente de variações conjunturais, o Brasil não
tem juros altos por que o BC é monetarista ou neoliberal, mas por
que o crédito público no Brasil, ou
as nossas contas públicas, ainda estão muito desarrumadas para que
tenhamos juros de Primeiro Mundo. É a mesma bactéria que provocou a "híper", agora bem menorzinha, mas ainda danosa o suficiente
para manter os juros onde estão.
gh.franco@uol.com.br
GUSTAVO FRANCO escreve aos sábados nesta coluna.
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