São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 2011 |
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Editoriais editoriais@uol.com.br Escolha inglória Crise entra em fase de aceleração, e piora do cenário na Europa exige sacrifício maior de nações centrais, em especial da Alemanha O encontro do Fundo Monetário Internacional em Washington, neste fim de semana, reforçou o diagnóstico de estreitamento do tempo hábil para evitar a recaída da economia global na recessão -mergulho que seria desencadeado pela crise das dívidas na Europa. Quase três anos depois do maciço resgate dos bancos, quando a ação coordenada dos governos teve papel importante para frear a deterioração, hoje é baixa a confiança das autoridades em sua própria capacidade de equacionar a crise. Gastaram tanto para evitar a derrocada financeira que ficaram sem recursos para novas ações de socorro -quadro agravado pelo baixo crescimento, que repercutiu nos cofres públicos por meio da fraca arrecadação de impostos. Quase todos os países ricos padecem do mesmo mal, mas é a situação europeia, de longe, a mais crítica. Investidores em fuga para aplicações consideradas mais sólidas deixam um rastro de governos e bancos flertando com a insolvência na região. Não se trata apenas de punir a irresponsabilidade fiscal, como no caso grego. Nações hoje vítimas da desconfiança ostentavam contas públicas exemplares antes da crise. A Espanha experimentava os melhores indicadores fiscais da UE, superiores aos da Alemanha. Mas isso é de pouca serventia diante do comportamento de manada de investidores em fuga. Até países centrais, como a França, passam a enfrentar turbulência, com seus bancos carregados de dívidas de países mais periféricos, hoje vistas como tóxicas. Na reunião de Washington, reiterou-se a urgência de uma atitude da UE para conter a crise. Um calote ordenado na dívida grega, implicando perdas para os credores de, no mínimo, metade do capital investido, são favas contadas. Essa notícia deve se precipitar em poucas semanas. Exigem-se das autoridades europeias engenho e arte para evitar o contágio das partes ainda solventes do bloco. Erguer diques de contenção para isolar grandes bancos e nações inteiras -Espanha e Itália- vai demandar o emprego de vultosas somas de capital, o que só ocorrerá se a Alemanha, o esteio do euro, concordar em absorver a maior parte da conta. O Parlamento alemão vota depois de amanhã a autorização para que um fundo continental de socorro de € 440 bilhões -uma montanha de dinheiro que, contudo, pode não ser o bastante- seja mobilizado para esse fim. Eis uma escolha inglória para a nação comandada pela premiê Angela Merkel. Ou paga essa fatura salgada e se expõe ela própria ao risco do descrédito ou deixa o euro à mercê da implosão -da qual tampouco escaparia. Próximo Texto: Editoriais: A lei da Fifa Índice | Comunicar Erros |
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