São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 2011

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CARLOS HEITOR CONY

Anatomia da primavera

RIO DE JANEIRO - Em janeiro de 1968, fiz escala de alguns dias em Praga, seguindo depois para Moscou e Murmansk, até o meu destino final, que era Havana.
Na praça principal da capital tcheca havia um enorme busto de Stálin que parecia dominar toda a cidade.
No início do que seria conhecida como Primavera de Praga, estudantes derrubaram e mutilaram a estátua do "pápuska" e o governo de Alexander Dub?ek começou a libertar o país do domínio soviético.
Meses depois, no meu regresso ao Brasil, fiz o mesmo percurso de volta e vi o busto restaurado, colocado na mesma praça.
Tropas do Pacto de Varsóvia haviam ocupado a cidade e a abertura do regime comunista durara o espaço de uma primavera.
Fala-se agora na Primavera Árabe, com a rebelião do povo contra os regimes ditatoriais de uma vasta região do Oriente Médio e do norte da África, movimento que começou na Tunísia e se espalhou por outros países que viviam na opressão política há vários anos. Ameaça se estender pela maioria do mundo árabe.
Um lugar comum da história garante que as revoluções devoram seus filhos.
O lucro imediato é a deposição dos tiranos e seus sequazes, mas até agora não se sabem ao certo a origem e as tendências dos diversos grupos revoltosos que ocuparam as ruas e lideraram a guerra civil que expulsou os ditadores do poder.
Acredita-se que tenha sido a aspiração democrática, da qual o mundo ocidental parece ser o modelo bem-sucedido. É possível. Que a torcida internacional seja neste sentido. Mas o confronto entre os dois universos não se limita à divisão entre o Ocidente e o Oriente.
São duas visões de mundo e do homem que transcendem a religião e a geografia. São expressões culturais e históricas que estão entranhadas no DNA dos povos de cada região.


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