São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES As premissas da concertação TARSO GENRO
Os últimos debates que se travaram no CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) tiveram larga repercussão na imprensa, pelo
fato de incidirem sobre uma conjuntura
saturada de expectativas negativas. Esse
órgão de assessoramento do presidente
saiu um pouco daquele "perfil médio"
de aparição pública, que é a situação
ideal para uma estrutura de negociação
política de caráter estratégico.
O processo de reordenamento democrático das sociedades, na fragmentação social e na diluição do "público" na época "pós-moderna", não será feito sem tensões reguladas. Pelo simples fato de que as tensões, originárias das brutais exclusões e desigualdades geradas pelos "tatcherismos" centrais e periféricos, se acentuarão cada vez mais. Ora, se as tensões não forem incorporadas como método e regulação para um diálogo transformador, a democracia é que sucumbirá. O que poucos querem. Não há nenhum exemplo histórico de transformação democrática duradoura, na sociedade moderna, que não tenha sido promovida por uma forte pressão da sociedade organizada. A força legitimadora das instituições na democracia representativa vem da sua capacidade de absorver e qualificar os conflitos que lhes são postos pela movimentação da sociedade civil. O CDES transmitiu para o "mundo interno" do governo duas questões-chave para o seu futuro estratégico: ajudou a consolidar a idéia de transição para um outro modelo de desenvolvimento e ajudou a colocar em pauta a idéia da retomada do crescimento, opondo-se a uma certa visão "naturalista", que sustenta ser o crescimento apenas um acréscimo quantitativo da estabilidade macroeconômica. Tudo isso o conselho fez com o governo, a partir do momento em que o conselho foi reconhecido como uma esfera pública que não é controlada pelo Estado e não é uma mera soma de interesses privados da sociedade civil. A experiência do CDES institui um espaço público não-estatal, no qual Estado e sociedade civil, ao mesmo tempo em que se confrontam, dialogam para produzir ações políticas concertadas. Sua finalidade estratégica é a concertação social, tomada esta como a construção democrática de uma nova ordem econômica e a tessitura de um novo pacto democrático que incorpore a totalidade da cidadania. Tarso Genro, 56, advogado, é ministro da Secretaria Especial do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República. Foi prefeito de Porto Alegre (1993-96 e 2001-02). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Jorge Bornhausen: O PT contra a classe média Índice |
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