São Paulo, terça-feira, 29 de dezembro de 2009

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A estreia de Obama

Reforma da saúde marca 1º ano do presidente democrata, que enfrenta dificuldades na economia e na política externa

VEIO na véspera de Natal a principal vitória em 2009 do governo de Barack Obama, prestes a completar seu primeiro ano de mandato. Por 60 votos a favor, todos democratas, contra 39 dos republicanos, o Senado aprovou a medida que reforma o sistema de saúde do país ao prever a obrigatoriedade de seguro médico para todos os americanos.
Segundo a proposta vitoriosa, 31 milhões de pessoas que hoje não contam com nenhum seguro de saúde, o equivalente a 10% da população, terão até 2014 para receber o benefício. Empresas com mais de 50 funcionários deverão oferecê-lo aos empregados, e aqueles que não tiverem recursos para bancar a sua parte do seguro serão subsidiados pelo governo -a parcela da ajuda federal será inversamente proporcional ao salário do segurado.
Calcula-se em quase US$ 900 bilhões, ou 6% do PIB, os gastos no novo sistema -a ser despendidos ao longo de dez anos. Parte desses recursos será recolhida por meio de impostos incidentes sobre os planos de saúde privados, o que vai encarecer em até 40% esta modalidade de serviço.
O aumento da carga tributária, hoje de 28% do PIB, que o novo programa acarretará -somado à entrada do Estado na economia depois da crise do ano passado- vai diminuir um pouco a distância entre o modelo americano e o Estado de bem-estar social de tipo europeu, onde o peso dos impostos é de pelo menos 40% do PIB. Essa pode tornar-se uma das marcas de Obama.
Já na frente externa, as dificuldades de seu mandato têm sido ainda maiores. Dadas as características dos conflitos em que os EUA se veem envolvidos, fatos que propiciem anúncios de "vitória" são improváveis.
Em 2009, Obama sofreu desgastes ao tentar levar adiante uma estratégia de negociação com o Irã -frustrada pela radicalização do regime islâmico, ao que parece em crise interna- e ao procurar mediar o conflito árabe-israelense.
No Afeganistão, o democrata hesitou muito antes de tomar a medida imposta pelos fatos: aumentar o contingente de militares no país, emulando seu criticado antecessor George W. Bush.
Concretizada a reforma da saúde, o governo Obama ainda terá pela frente, no topo de suas prioridades, o desafio de lidar com o fardo da crise na economia americana. Evitou-se a depressão, mas os Estados Unidos vão conviver, a questão é por quanto tempo, com níveis de desemprego e de desequilíbrio fiscal historicamente elevados.
Frustradas as expectativas de encaminhamento rápido para as principais aspirações da política externa do democrata, o desempenho na tentativa de reanimar a atividade econômica nos EUA será crucial para o julgamento do primeiro mandato de Barack Obama -bem como para suas chances de sucesso na reeleição.


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