São Paulo, domingo, 30 de maio de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Se nos for dado escolher...
CHRISTOPHER PATTEN e ENRIQUE IGLESIAS
Os atuais níveis de exclusão social na América Latina e no Caribe são insustentáveis. Dados elaborados pelo BID mostram que a América Latina apresenta os números mais elevados de desigualdade do mundo, com quase 45% da população vivendo na pobreza em 2003. Essa situação é moralmente inaceitável. A despeito da reestruturação econômica e das reformas políticas introduzidas na década de 1990, grandes segmentos da população não têm podido usufruir das vantagens de uma economia de livre mercado. A exclusão social está também no coração das crises políticas que freqüentemente afligem os países latino-americanos. Uma pesquisa conduzida recentemente pelo PNUD mostrou que as democracias estão perdendo o apoio de seus cidadãos, por conta da desigualdade e da pobreza extrema. Mais da metade dos cidadãos da América Latina apoiaria um governo autoritário, se este fosse capaz de sanar suas dificuldades econômicas. Entretanto a história nos tem mostrado que as violações aos direitos humanos e a corrupção encontram terreno mais fértil nas ditaduras. É a democracia que oferece melhores perspectivas para um desenvolvimento econômico mais eqüitativamente distribuído. Esse é o principal argumento da publicação conjunta Comissão Européia-BID intitulada "Democracia com Desigualdade?", apresentada na cúpula. A luta contra a exclusão social também tem lógica econômica. A pobreza reduz o tamanho dos mercados e detém o crescimento econômico. Uma sociedade justa e integradora gera trabalhadores e consumidores mais qualificados, atrai mais investimento estrangeiro e promove um crescimento mais rápido. A UE está plenamente consciente das complexidades envolvidas na integração de todos os segmentos da sociedade e na tentativa de uma distribuição mais justa do bem-estar; e deseja apresentar a seus parceiros na América Latina e no Caribe sua experiência na promoção da coesão social. A UE vem trabalhando exaustivamente com o BID e foi a Guadalajara com algumas propostas concretas, notadamente a iniciativa EUROsociAL, financiada com 30 milhões, que criará redes de administração pública permitindo a transferência de experiências e de know-how na definição e implementação de políticas sociais. O BID participará desse esforço por meio de cooperação técnica e do apoio financeiro. A globalização torna a integração regional particularmente importante. A história européia oferece inúmeras provas dos benefícios da crescente interdependência entre vizinhos. O aprofundamento da integração regional na América Latina e no Caribe permitirá que os países da região tenham voz mais ativa nas questões mundiais. Além disso, o progresso na promoção da integração regional é importante para o desenvolvimento e o fortalecimento de nossas relações bilaterais. Recentemente, a União Européia manteve diálogos políticos e firmou acordos de cooperação com a Comunidade Andina e a América Central e está sendo solicitada a iniciar com elas negociações sobre acordos de livre comércio. Esses acordos fazem sentido, em termos econômicos, quando é possível negociar na base de região para região e quando ambos os lados podem garantir que suas exportações circularão livremente por seus territórios. Um acordo de associação equilibrado da UE com o Mercosul liberaria substancialmente o comércio entre as duas regiões e estimularia o desenvolvimento de novos laços produtivos no próprio Mercosul. Por isso foi importante que, na cúpula, a UE e o Mercosul tivessem encontrado o caminho para firmar um acordo até o próximo outubro. A Cúpula de Guadalajara também nos permitiu discutir como contribuir com a paz e a segurança mundiais, incluindo formas para enfrentar desafios comuns, como o gerenciamento de fluxos migratórios, a degradação ambiental, a proliferação de armas de destruição em massa e o terrorismo. Partilhamos um compromisso claro com o multilateralismo e devemos trabalhar para torná-lo mais efetivo. Estamos confiantes em que, a partir das conquistas das duas cúpulas anteriores, Guadalajara tenha representado mais um avanço em nossa parceria estratégica. É isso que nossos cidadãos merecem e, portanto, nossa escolha deve ser clara. Christopher Patten, 60, é o comissário de Relações Exteriores da União Européia. Foi o último governador britânico de Hong Kong (1992-97). Enrique V. Iglesias, 72, é o presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Roberto Teixeira da Costa: China e Índia Índice |
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