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Macarrão vira iguaria, com larva de sobremesa

Vida de militar na Amazônia é dura, mas posto na fronteira é cobiçado

Servir em pelotão na 1ª linha de defesa do país e receber um adicional atraem oficiais para locais remotos

DA ENVIADA À REGIÃO NORTE

Depois de dias sobrevivendo na selva à base de farofa com sardinha em lata, o sargento Lucas Rufino aprendeu uma receita gourmet que nem precisa de fogueira: macarrão instantâneo de dois litros.

Em uma garrafa de água, basta pôr o macarrão, adicionar o tempero de saquinho e sacudir bastante. "Fica molinho, você nem percebe que está frio", ele conta. De sobremesa, outra iguaria: o gongo, a larva branca que fica dentro do coco babaçu. "O segredo é arrancar a cabeça com os dentes, aí a larva para de se mexer", diz. "Tem gosto de coco, é uma delícia."

Rufino passou 25 dias longe de casa na operação Curare, teve folga de cinco dias, e voltou para a selva. Já está há seis dias na reserva de Mapinguari, em Rondônia, na Operação Ágata 7.

A vida dos militares que servem na Amazônia é dura, mas trata-se de um dos postos mais cobiçados. "Ser um tenente de 24 anos, comandando um pelotão na primeira linha de defesa do país na selva é um sonho", diz o capitão Renato Ximenes.

Nas patrulhas de selva, a única maneira de se locomover é a pé. São 25 km por dia no meio da mata, carregando mochilas com até 40 kg.

Os soldados recebem uma ração comercial: um saco plástico com pé de moleque, bolacha água e sal, macarrão instantâneo, um saco de farofa e uma lata de sardinhas.

No fim do dia, os militares abrem uma clareira para montar o acampamento. Muitos preferem não usar as barracas, que eles chamam de iglus. "Se passa uma matilha de queixadas à noite, não sobra nada", diz o capitão Ximenes. Os militares dormem nas redes de selva, que vêm com mosquiteiro.

Tomar banho é outro desafio. O mergulho nos igarapés soa idílico, até que se ouçam as histórias sobre as arraias. Ficam camufladas no chão de areia e quem pisa leva uma ferroada dolorosa.

Há outros riscos. Em algumas regiões, os soldados contam mais de dez malárias. A dengue é comum. E tem também a leishmaniose. Transmitida pela picada do mosquito flebótomo, transforma-se em uma ferida crônica e vai crescendo. Os soldados ficam afastados um mês e recebem mais de 50 injeções.

Para os soldados na Amazônia, o mais difícil é ficar dias longe de casa, sem acesso a celular ou internet. "Quando meu filho nasceu, demorei dois meses para vê-lo, estava em Santa Rosa dos Purus, aonde só se chega de barco ou aviãozinho", conta o cabo Wesley Araújo.

No índice de lonjura "Coca-Cola dois litros", Santa Rosa dos Purus está no topo --lá, a garrafa sai por R$ 10. Em Plácido de Castro, de mais fácil acesso, a Coca sai por R$ 7. Em São Paulo, custa R$ 5.

Os oficiais que trabalham nesses postos remotos ganham um adicional de 20% para compensar o custo de vida. Um tenente em pelotão de fronteira na Amazônia chega a tirar R$ 6.000. Os soldados entram ganhando na faixa de R$ 800, depois de um ano podem receber R$ 1.300.

As mulheres só servem em funções que não são de combate. A aspirante Caroline Ortiz era a única mulher entre os mais de 70 homens em um bloqueio na estrada BR 364.

Médica, ela ia ficar longe de casa 15 dias, dormindo em um alojamento na usina de Jirau. Enquanto esperava no bloqueio, Caroline lia o best-seller erótico "Cinquenta Tons de Cinza", de E.L. James. "A gente precisa se distrair um pouquinho, não é?"


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