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'Ghost writers' da Câmara escrevem discursos até para a presidência da Casa

Serviços da consultoria de redação parlamentar têm fila de espera; no ano passado, equipe de 12 servidores produziu 2.400 discursos

JOHANNA NUBLAT MÁRCIO FALCÃO DE BRASÍLIA

A cena é rotina no plenário da Câmara: um deputado sobe à tribuna e, com um discurso, dispara recados para sua base eleitoral, comenta sobre economia, ataca ou elogia o governo e, ocasionalmente, se defende de acusações. Tudo previamente calculado e escrito.

Poucos sabem, porém, que as críticas de um deputado e os elogios de outro ao mesmo assunto podem ter sido escritos por uma única pessoa.

Os 513 deputados contam com uma equipe de 12 servidores do alto escalão da Casa que ficam à disposição para produzir discursos. São os "ghost writers" dos deputados, que trabalham para todas as colorações partidárias.

A partir de demandas dos gabinetes dos congressistas, a consultoria da área de redação parlamentar elabora o discurso sobre o tema solicitado, desde que não seja um assunto muito específico --nesse caso, a tarefa é desempenhada por outras áreas da consultoria.

São feitos contatos com os gabinetes, para saber quem citar --e, principalmente, quem não citar-- e tirar dúvidas sobre a posição do deputado sobre o assunto.

"Somos especialistas em generalidades", resume Edmilson Caminha, 61, que se aposentou no ano passado, após passar 22 anos preparando discursos de parlamentares. "Trabalhava como uma doceira quando vai fazer um bolo: faço de acordo com o gosto do freguês. Ele quer sal, eu ponho sal, quer muito açúcar, eu ponho muito açúcar."

Além de adaptar o tom político, segundo Caminha, é preciso adaptar a linguagem. "Em um universo de 513 brasileiros, o estudo varia da pré-escola ao pós-doutorado", afirma.

Para o consultor aposentado, a função de "ghost writer" é necessária porque os deputados têm várias atividades, muito além dos discursos, como reuniões e visitas a seus redutos políticos.

DEMANDA

A procura é grande, há fila de espera e a entrega pode levar até um mês. A Folha apurou que a própria Presidência da Câmara, líderes e o baixo clero --grupo de parlamentares sem muita expressão--, são os que mais requisitam o serviço.

Ao todo, os consultores produziram no ano passado cerca de 2.400 discursos. Pelas regras, cada parlamentar pode pedir a produção de quatro discursos por mês.

As falas em plenário podem durar 5 ou 20 minutos. Muitas vezes, os textos são lidos para um plenário bem esvaziado, o que não chega a incomodar o parlamentar --ele sabe que fotos, gravações e textos serão transmitidos à sua base eleitoral por sua equipe do gabinete.

'ABRIR AS IDEIAS'

Foi para poucas pessoas que o deputado Chico das Verduras (PRP-RR) discursou na quarta-feira (4). Defendeu um projeto de lei sobre a tributação de mercadorias da Venezuela, criticou agressões às mulheres e ainda mandou boas vibrações para os jogadores da seleção.

Dessa vez, o discurso foi escrito por assessores diretos do deputado. "Já usei [os consultores de redação], principalmente no começo do mandato. Ajuda a abrir as ideias, a gente nunca sabe tudo."

No último concurso para a Câmara, foram abertas três vagas para consultor da área de redação parlamentar, com um salário de R$ 25 mil.


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