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Depoimento
'No avião, foram horas de agonia e adivinhação'
FABIO VICTOR ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRESabia que perderia o começo do jogo do Brasil, no máximo o primeiro tempo. Pelo horário do voo (saída do Rio às 11h17, chegada a Porto Alegre às 13h25) e pelo histórico de viagens na Copa até ali --nenhum atraso--, nem me apoquentei.
Mas atrasou muito, o que permitiu vermos o gol brasileiro na sala de embarque.
No avião, foram três horas de tensão. O gol do Chile vi pelo Twitter, o início do segundo tempo filei no celular de um vizinho com 4G.
Antes da decolagem, um rumor e muitos gritos: gol do Brasil. De Hulk. Foi anulado. Não foi. Foi, não foi. Foi.
Voamos às 14h15. Daí pra frente, trevas, agonia e adivinhação. Especulações espocaram. Um comissário é flagrado com os dois indicadores levantados. "Empatou, foi 1 a 1", interpretaram vários passageiros. Foi, não foi, foi, não foi. Levantei para perguntar. Foi.
Prorrogação.
De repente a voz da comandante Elisa surge com informações sobre a rota e o clima. Só no finzinho ela solta: "Aos que estiverem interessados, Brasil e Chile empataram em 1 a 1 e o jogo foi para a prorrogação."
Falou isso sem alterar a voz, como se desse mais uma informação sobre o voo. Para pilotar Boeings e dar uma notícia dessas desse jeito, a comandante Elisa deve ser uma mulher muito fria e séria, pensei.
Sempre inabalável, ela vai atualizando a crônica do jogo no Mineirão. "Terminou 1 a 1 e o jogo vai para os pênaltis." Vários passageiros se levantam, um clima de boteco se instala nos ares.
E então arremata: "O Brasil passou de fase. O Chile chutou o último pênalti na trave. É isso aí, vamos para a próxima, bom pouso".
Quando o Boeing aterrissou, às 16h17, com três horas de atraso, palmas e gritos de "Brasil" e "Júlio César" explodiram no avião.