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Parecer suspeito facilitou negócio de R$ 1,3 bi em Santos
PF suspeita que manifestação da Advocacia-Geral que possibilitou o negócio foi feita sob encomenda
Contrato de empresa com o governo havia sido questionado pelo TCU por suposta fraude no processo de licitação
Um parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) que está sendo investigado sob suspeita de ter sido comprado ajudou o empresário Carlos César Floriano a vender a Tecondi, uma empresa de contêineres no porto de Santos, por R$ 1,3 bilhão em junho.
Essa é a interpretação de executivos que acompanharam a negociação e da Polícia Federal.
A Tecondi -comprada pela EcoRodovias, do grupo CR Almeida- é uma empresa que arrenda uma área da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) no porto de Santos desde 1998.
O Tribunal de Contas da União (TCU) acusava a empresa de fraudar a Lei das Licitações porque ela ganhou o direito de arrendar uma área, mas acabou explorando outra, diferente daquela que constava da concorrência.
A área licitada, de 170 mil metros quadrados, era no Valongo e exigia investimento de R$ 70 milhões porque não estava pronta. A Tecondi, porém, passou a usar uma área menor, de 136,4 mil metros quadrados, no Saboó, a 2 km do terminal licitado. A diferença é que essa área estava pronta e não requeria grandes investimentos, diz o TCU.
A área original foi usada pela Prefeitura de Santos num projeto de revitalização. O Ibama também tinha restrições ao projeto.
Se prevalecesse a interpretação do TCU de que houve fraude, o contrato com o governo seria rompido e o valor do negócio cairia bastante por uma razão simples: quanto vale uma empresa de contêineres sem área no porto?
O parecer suspeito foi encomendado em 2010 por Paulo Rodrigues Vieira, ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), acusado de liderar um grupo que vendia pareceres, a José Weber Holanda, que era o advogado-geral-adjunto da União.
Ambos foram demitidos após a operação da PF.
Vieira atuou em duas frentes para tentar ajudar a Tecondi: no TCU e na AGU.
No TCU, ofereceu R$ 300 mil em 2010 ao então auditor fiscal Cyonil Borges, que cuidava do caso no órgão o e defendia que o contrato deveria ser rompido.
Borges recebeu R$ 100 mil de Vieira, rompeu com o grupo e denunciou as irregularidades à PF -seu relato é o marco zero da investigação.
Na AGU, Vieira trocou e-mails com Weber sobre o caso, de acordo com a polícia.
Em 2010, a AGU declarou que o processo da Tecondi era de interesse da União. Usou o argumento de que o caso poderia trazer repercussões financeiras para o governo -a empresa poderia pedir uma indenização milionária se o contrato fosse rompido.
Como parte do processo, a AGU ajudou a Tecondi a ganhar uma ação no Superior Tribunal de Justiça (STJ) em janeiro de 2011. A advocacia do governo sustentou que o rompimento com a Tecondi provocaria um "transtorno" no porto de Santos.
A AGU foi além do parecer que Cyonil Borges escrevera para o TCU sob encomenda do grupo. Nesse documento, Borges dizia que o rompimento do contrato traria insegurança jurídica, já que a Tecondi investira R$ 261 milhões no terminal, segundo o TCU.
O argumento dos "transtornos" foi acatado pelo ministro Ari Pargendler, do STJ.
Por escrito, a AGU disse ontem que irá "instaurar procedimento de revisão dos pareceres proferidos".