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Desenhando o poder
Desenhos revelam como alunos de escolas
do DF veem os candidatos; Dilma é representada
em geral por uma figura maior que a de Serra
DIMMI AMORA
DE BRASÍLIA
Israel, de cinco anos, veste
um gorro preto e olha com
desconfiança para o repórter
da Folha que entra na sala de
aula onde estuda na Escola
Pública 7 da Ceilândia, um
dos redutos da nova classe
média no Distrito Federal.
Minutos depois, ainda sem
falar, o menino já está concentrado em sua tarefa: ver
um trecho do debate entre os
candidatos a presidente Dilma Roussef (PT) e José Serra
(PSDB), promovido pela Folha/RedeTV! no dia 17, e em
seguida fazer um desenho.
Além dele, outras 34 crianças de cinco e seis anos da
pré-escola da Ceilândia participaram da experiência
-repetida com 34 alunos de
seis anos do 1º ano do Colégio Marista João Paulo 2º, escola privada na Asa Norte,
bairro nobre de Brasília.
Apesar da diferença
no estágio escolar, a produção dos desenhos de
forma geral aponta uma
tendência de maior
apoio a Dilma entre os
futuros eleitores da Ceilândia, onde até mesmo Lula é citado ao se
perguntar em quem as
crianças votariam.
Serra vence na Asa
Norte. Lá, ao fim do
exercício, um grupo
de seis meninos sai
pulando e gritando o
nome do candidato
pelo corredor.
INFLUÊNCIA DOS PAIS
A repetição entre as crianças das preferências apontadas nas pesquisas não é novidade para as professoras.
"Eles recebem muito a influência dos pais e estão muito inseridos no processo eleitoral. Tivemos que trabalhar
valores como respeito às escolhas por causa de discussões entre eles", diz Monalisa
Almeida, do Colégio Marista.
Há outra semelhança com
os adultos: as crianças não
aguentaram ver mais do que
os 13 primeiros minutos do
programa. Após dez, a maioria já estava desinteressada.
A propaganda eleitoral e
as discussões em casa transparecem nos desenhos. Mesmo aparecendo de branco no
programa, Dilma quase sempre é pintada de vermelho ou
colorida, como sua propaganda tenta pintá-la. Já Serra
aparece associado ao azul,
cor do PSDB, e também ao
preto, apesar do terno cinza.
Pesquisas indicam que
Dilma enfrenta resistências
entre as mulheres. Mas não
entre as pequenas desenhistas: aparece várias vezes ao
lado de corações. Além disso,
em muitas pinturas, a candidata aparece sozinha.
A psicopedagoga Tânia
Ramos Fortuna, da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, que analisou as ilustrações, observou que, mesmo nas vezes em que é desenhada ao lado de Serra, Dilma é representada por uma
figura maior do que ele.
"Os desenhos expressam
sentimentos e valores das
crianças em relação ao
conteúdo do vídeo. Elas
demonstram preferências
ou, pelo menos, mostram-se capazes de compreender que se trata de
uma disputa altamente
mobilizante", diz Tânia.
Já Neide de Aquino
Noffs, presidente da
Associação Brasileira
de Psicopedagogia e
professora da PUC-SP, acha que a candidata foi associada pelas meninas à figura
da mãe/ professora e
por isso foi retratada
mais sozinha.
Neide observa
que as crianças não
são capazes de entender a complexidade dos
argumentos dos candidatos.
Mas os desenhos refletem a
percepção do conflito.
Há ainda os que chegam a
desenhar os candidatos lado
a lado ou no mesmo púlpito.
Há também elementos como
sol, nuvens, flores e árvores,
que indicam que Dilma e Serra foram considerados dois
amigos, brincando.
Concentrado, o pequeno
Israel desenha com traço forte um homem sem cabelo e
de olhos grandes e a seu lado, uma mulher maior. A posição dela parece de ataque.
A figura masculina é pintada. A feminina, não. Perguntado se tinha desenhado
uma briga, Israel dá um pequeno sorriso e vai brincar
no pátio. Em silêncio, como
no início da brincadeira.
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