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Médico é indiciado por morte no DF
Jornalista de 27 anos teve perfuração perto do rim e morreu durante cirurgia de lipoaspiração
Conselho Federal de Medicina está elaborando um protocolo de segurança que deverá ser seguido por todos os cirurgiões plásticos
JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O cirurgião plástico Haeckel
Cabral Moraes, responsável pela lipoaspiração da jornalista
Lanusse Martins Barbosa, 27,
que morreu na segunda-feira
durante a cirurgia, foi indiciado
ontem por homicídio doloso
(com intenção de matar) pela
Polícia Civil do DF.
Segundo a delegada Martha
Vargas, o laudo do IML (Instituto Médico Legal) indica que o
cirurgião ultrapassou a parede
abdominal da paciente com a
cânula da lipoaspiração, o que
provocou uma perfuração profunda e atingiu a veia renal próxima ao rim direito.
Por conta da perfuração, a
jornalista perdeu 1,5 litro de
sangue (cerca de um terço do
total), o que provocou sua morte por choque hipovolêmico.
Ao perceber sinais da hemorragia, relata a delegada, o anestesista teria aconselhado o cirurgião a interromper a cirurgia. "Ele fez várias manobras,
como a massagem cardíaca e
aplicação de medicamentos,
mas ele deveria ter aberto a paciente. Não entendemos isso
como um caso de simples imperícia, imprudência ou negligência, por isso, ele foi indiciado pelo dolo eventual", diz.
A indicação de homicídio doloso -em que há a intenção de
matar e é punida com reclusão
de seis a 20 anos- não é comum nos casos de erro médico.
O presidente do CFM (Conselho Federal de Medicina),
Roberto d'Ávila, diz se lembrar
de apenas um outro caso: o do
ex-médico Marcelo Caron,
condenado a 30 anos de prisão
pela morte de duas pacientes.
Para d'Ávila, em nenhum caso o médico deveria ser acusado de ter a intenção de matar.
"Ele não colocou o aparelho para matá-la, não tem o menor
sentido. Pode ser o caso de enquadrá-lo como homicídio culposo [sem intenção de matar,
reclusão de um a três anos]."
O presidente do CFM alerta
para a "inviabilização" da medicina caso a Justiça comece a
condenar médicos como se
houvesse a intenção de matar.
"Vai haver uma descrença por
parte dos pacientes, e os médicos vão parar de fazer procedimentos de risco maior", disse.
"Cheklist"
Para evitar problemas em cirurgias plásticas, o CFM está
elaborando um protocolo de
segurança que deverá ser seguido por todos os médicos.
De acordo com Antônio Pinheiro, coordenador da Câmara Técnica de Cirurgia Plástica
do CFM, o "checklist" inclui verificar se a paciente fez todos os
exames pré-operatórios, se
passou por um anestesista antes, se o local da cirurgia possui
todos os equipamentos para garantir a segurança do procedimento, entre outras coisas.
O presidente da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Plástica,
Sebastião Guerra, não quis comentar a questão do dolo e disse que tudo será apurado. Afirmou, porém, que é preciso "admitir que houve erro médico".
Moraes tem título de especialista em cirurgia plástica e 16
anos de experiência sem ter tido situação semelhante antes,
diz a delegada.
A Folha procurou o médico,
mas não obteve resposta.
O caso será investigado por
30 dias pela polícia antes de ser
encaminhado ao Ministério
Público, que dirá se denuncia
ou não o médico e como (se por
homicídio doloso ou culposo).
Colaborou FERNANDA BASSETTE ,
da Reportagem Local
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