São Paulo, quarta-feira, 28 de setembro de 2011 |
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Mobilização ou distração? Ao analisar a revolução no Egito, pesquisador dos EUA conclui que bloqueio de Mubarak à web (e aos seus passatempos) ajudou a disseminar os protestos NOAM COHEN DO "NEW YORK TIMES" As mídias, incluindo as ferramentas interativas de redes sociais, tornam você passivo, podem solapar sua iniciativa e fazer com que você se contente em assistir ao espetáculo da vida desde seu sofá ou de seu smartphone. Até mesmo durante uma revolução, ao que parece. Essa é a tese provocante de um novo artigo de Navid Hassanpour, pós-graduando em filosofia política na Universidade Yale, intitulado "Bloqueios da Mídia Exacerbam Agitação Revolucionária". Com cálculos complexos e vetores que representam a tomada de decisões por parte de potenciais manifestantes, Hassanpour, doutor em engenharia elétrica pela Universidade Stanford, estudou o levante recente no Egito. Sua pergunta foi: "Até que ponto foi inteligente a decisão tomada pelo governo do ditador Hosni Mubarak em 28 de janeiro, no meio dos protestos cruciais na praça Tahir, de fechar as conexões à internet e aos celulares?". A conclusão dele é que a decisão não foi tão inteligente assim, mas não pelas razões mais previsíveis. "A conectividade plena em uma rede social às vezes representa um obstáculo à ação coletiva", ele escreve. Em outras palavras: a atividade toda de trocar mensagens no Twitter, no Facebook e por SMS é ótima para organizar e difundir uma mensagem de protesto, mas também pode transmitir uma mensagem de cautela, adiamento, incerteza ou, ainda, "não tenho tempo para esta política toda. Você já viu o último figurino de Lady Gaga?". É uma conclusão que contraria a ideia hoje aceita de que as mídias sociais ajudaram a impelir os protestos. Hassanpour usou relatos feitos pela imprensa das explosões de agitação no Egito para mostrar que, a partir de 28 de janeiro, os protestos se disseminaram mais amplamente pelo Cairo e pelo país. Não havia necessariamente mais manifestantes, mas o movimento se espalhou para mais partes da população. Ele chama isso de "processo de localização". "Pode ser difícil medir esse processo, mas você pode testá-lo -pode testar o que acontece depois que entra em efeito uma interrupção das conexões", argumenta. TRÊS EFEITOS NO CAIRO Ele escreve que "a interrupção parcial ou total da cobertura dos celulares e da internet em 28 de janeiro exacerbou a turbulência de ao menos três formas": 1) chamou a atenção de muitos cidadãos apolíticos, que não tinham consciência da turbulência ou não estavam interessados por ela; 2) obrigou a realização de mais comunicação cara a cara, ou seja, mais presença física nas ruas; e 3) descentralizou concretamente a rebelião no dia 28, graças à adoção de táticas de comunicação híbridas, fato que gerou algo mais difícil de controlar e reprimir do que teria sido uma só aglomeração de massa na praça Tahir. ESCURIDÃO ESTRANHA Ao "New York Times", Hassanpour descreveu a "escuridão estranha" que acontece em uma sociedade sem acesso à mídia. "Somos mais normais quando sabemos o que está acontecendo; somos mais imprevisíveis quando não sabemos. Em uma escala de massas, isso tem implicações interessantes." O governo de Hosni Mubarak caiu, e, aos 83 anos, o ex-ditador foi levado de maca a um tribunal do Cairo para enfrentar acusações criminais de corrupção e cumplicidade na morte de manifestantes. Jim Cowie, executivo-chefe de tecnologia da Renesys, empresa que avalia como a internet opera em todo o mundo, acredita que outro ditador deposto, Muammar Gaddafi, pode ter tomado nota da experiência egípcia. Em um post em um blog no site da empresa, "O que a Líbia aprendeu com o Egito", Cowie escreveu em março que a Líbia estudou a ideia de interromper a conexão com a internet no país. Os líderes líbios "enfrentaram a mesma decisão no período que antecedeu a guerra civil", ele escreveu. "A cada vez, possivelmente por terem aprendido com o exemplo egípcio, eles optaram por não implementar um blecaute de vários dias de todas as conexões", completou. SUFOCAR A REDE Os governos sofisticados compreendem "que fechar o acesso à rede radicaliza as coisas", disse Hassanpour. O que é mais útil para os governos é "sufocar a largura de banda", reconhecendo que "a internet é algo que é possível reduzir, sem eliminar". Esse processo visa tornar a conexão menos confiável e pronta, de modo que as páginas da web demorem para ser carregadas e que o streaming de vídeos seja imperfeito. De acordo com Jim Cowie, o Irã foi um dos vários países que perceberam que "o negócio não é desligar a internet, mas fazer com que ela seja menos útil", ao controlar quais bairros têm acesso a ela, por exemplo. Hassanpour, que nasceu e foi criado no Irã, concorda com essa tese: "O Irã faz isso de maneira localizada". Tradução de CLARA ALLAIN Texto Anterior: André Conti: 15 horas em 8 minutos Próximo Texto: Frases Índice | Comunicar Erros |
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