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Navio foi uma "escola de vida" para Bassoleil
DA REPORTAGEM LOCAL
Como guardar um cadáver
em alto-mar? Na câmara frigorífica, junto dos legumes.
Pode não parecer a resposta mais correta, mas foi a solução adotada três vezes a
bordo do Mermoz dos Croisieres Paquet, navio em que
o chef Emmanuel Bassoleil
passou três anos trabalhando na cozinha. "Cobríamos o
defunto com uma coberta e...
geladeira!", conta, rindo.
Ele se apressa em dizer
que agora é diferente, mas
que, naquela época, a única
solução em um navio pequeno era ajeitar o sujeito no
fundo da câmara frigorífica.
Conversar com Bassoleil
sobre as duas voltas ao mundo que ele deu a bordo desse
pequeno navio, entre 85 e 87,
poderia durar horas. Ele se
diverte. Ri. Revive. Traz à tona histórias saborosas de
bastidores, que levam o interlocutor a pedir alguns minutos mais da entrevista dada por telefone, num dos intervalos no comando da cozinha do Skye, em São Paulo.
Dos causos de que mais
gosta, outro que o diverte é
sobre uma noite em que o
cruzeiro atravessava o Pacífico, próximo às ilhas Fiji. O
relógio marcava 20h, e os
passageiros começavam a
desfilar "black ties" e longos
no "jantar do comandante".
No menu, lagosta, foie
gras, caviar. Ficou com água
na boca? Os 600 passageiros
e os 300 tripulantes também.
"Uma tempestade levou tudo para o chão: mesas, louças
e toda a comida das panelas!"
Um incidente bobo, se
comparado às 48 horas sem
água e sem comida em águas
brasileiras, no encalhe do navio na travessia Belém-Santarém-Manaus. Mas tudo era
visto como aventura pelo
aprendiz de cozinheiro, então com vinte e poucos anos.
"Por mais difícil que fosse,
era a realização de um sonho." Bem, "difícil" chega a
ser um adjetivo generoso para a rotina estafante. "Nunca
tive um dia de folga. Mesmo
quando parávamos em algum lugar, tinha uns "chatinhos" que insistiam em comer no navio", diz, rindo.
O relógio tocava às 6h. A
chamada na cozinha era feita
às 7h. Era quando o trabalho
começava e só dava uma pausa para o almoço, às 14h30.
Às 18h, todo mundo na cozinha, para novo batente, até
as 22h. Depois, balada -dentro ou fora do Mermoz, que
entrava pela madrugada.
Hoje, ele afirma que não
trabalharia num navio. "Agora é tudo muito grande. Prejudica a qualidade da comida." Sobre a maior lição tirada dos tempos no mar, ele
diz: "Aprendi a operar, tecnicamente, um jantar para 600
pessoas da mesma forma que
preparo para cem".
(PRISCILA PASTRE-ROSSI)
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