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CRÍTICA
Coronelismo audiovisual
XICO SÁ
PRIMEIRO o coronelismo agrário, que ainda mantém
as suas sombras no Nordeste e nos grotões -mentais ou geográficos- de todo o país. Depois, um certo coronelismo agroindustrial, repaginado, que controla do suco de caju à Coca-Cola.
Agora vem, claro, um coronelismo simbólico, mas nem por
isso menos explícito. Caso das grandes emissoras de TV, corporações que lavaram a égua em várias fontes: à custa das benesses fiscais e dos favorecimentos da ditadura militar, escambo político a
torto e a direito e planos
de capitalização insistentemente classificados como imorais e ilegais pelo
Ministério Público Federal. A exploração da fé dos
miseráveis teria sido outro
Jordão, melhor, outro Tietê, onde emissoras hoje
consolidadas fizeram seus
batismos.
E não foi apenas na TV
que a casta audiovisual lavou a égua, como diria Câmara Cascudo na sua etnografia afetiva. À custa
do mecenato público fortalecido nos últimos anos,
sempre de pendor muito
iluminista, os caciques do cinema sempre souberam dar o grito mais eficiente desde os brados de d. Pedro 1º: "Patrulha
ideológica ou morte", propagaram, às margens plácidas da
baía de Guanabara. Quando escutam esse grito, os mecenas
sempre sacam, tique nervoso condicionado à Pavlov, um afago fiscal.
Além da concentração, esse grupo consegue obter do governo uma delicadeza que remonta a visão do poeta do século 19.
No primeiro alarde de insatisfação, já recebe um dengo de
Brasília. Condição especialíssima que precede os anos 800,
quando Baudelaire recomendou que atirassem à lama todas
as auras dos artistas e ditos artistas. Era chegada a modernidade que teima em não pisar por aqui. Sobram-nos a lata d'água
de Serra Talhada, coronelismo que estrebucha, mas não morre, e as latas de filmes do tal coronelismo audiovisual.
Embora não esteja preocupada com problema de aura, a
casta televisiva, representada aqui pela Rede Globo, resiste como pode à proposta do governo federal que tenta usar o critério da audiência para a nova distribuição do seu bolo publicitário. O mesmo critério
sempre utilizado pela emissora para obter mais dividendos.
Outra resistência braba,
agora já envolvendo o conjunto das grandes emissoras, tenta frear o projeto de
regionalização dos programas de TV, de autoria da
deputada Jandira Feghali
(PC do B -RJ). O caso está
enrolado desde 1991 no
Congresso. Adivinhem por
quê? A quem interessa exigir maior produção nos
centros fora de Rio-SP, que
concentra um percentual
em verba publicitária equivalente a quase o dobro do
que possui em PIB? No máximo de esforço e compaixão, as grandes emissoras permitem que as afiliadas joguem
um bumba-meu-boi na rede, a velha dança da culpa.
Muitos coronéis eletrônicos do Nordeste também estão no
lobby do contra. É mais econômico pegar o Faustão e o Gugu
e mandar na repetidora. A Abert, entidade que reúne as emissoras, tem uma desculpa mais risível, já que o negócio aqui é o
entretenimento: temem que as massas sejam prejudicadas
por causa da baixa qualidade dos programas regionais. Despeço-me com uma gargalhada carregada de sotaque.
A COLUNISTA BIA ABRAMO ESTÁ EM LICENÇA
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