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Manoel Carlos reúne na mesma novela os mais variados dramas femininos e garante o ibope
Mulheres COMPLICADAS
FERNANDA DANNEMANN
DA REPORTAGEM LOCAL
CRISTINA RIGITANO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A AUDIÊNCIA de "Mulheres Apaixonadas", novela das oito da Globo
que tem dado picos de 50 pontos, comprova o que o cineasta espanhol Pedro
Almodóvar já sabia: dramas femininos
dão ibope (cada ponto equivale a 48,5
mil domicílios na Grande São Paulo).
Se Almodóvar ganhou o Oscar com o
tragicômico "Mulheres à Beira de Um
Ataque de Nervos" (1988), Manoel Carlos -já consagrado como novelista-
optou pela seriedade, afinal escreve uma
novela para o horário nobre. Muda o enfoque, mas a essência é a mesma. E o público, nos dois casos, aprova o caos.
Na opinião da psicanalista carioca Eny
Lacerda, o sucesso se deve à identificação
dos telespectadores. "O público faz terapia através da TV", diz ela. "A partir dos
problemas dos personagens, as pessoas
se dão conta dos próprios problemas, e
isso é válido. Tenho muitos pacientes
que falam da novela nas sessões", afirma.
Segundo Manoel Carlos, que buscou
inspiração em casos reais para escrever a
história, os grupos de discussão montados pela Globo para identificar a opinião
dos telespectadores não detectaram rejeição a nenhum dos personagens.
Interpretando Heloísa, uma ciumenta
patológica, Giulia Gam atesta a aceitação
e diz receber muitas cartas. "Estamos
atingindo o âmago das pessoas, que se
identificam. A novela é um espelho", diz.
Divorciada, a dona-de-casa Maria Alice Martins, 52, se identifica com Helena
(Christiane Torloni), que deu fim a um
casamento insosso. "Consigo sentir o
que ela sente. A vida real é assim mesmo.
A Raquel [Helena Ranaldi] é que não
corresponde à realidade", diz, referindo-se à mulher independente financeiramente que apanha do marido.
"Ela se submete por medo ou é masoquista?", questiona a professora de dramaturgia da USP, Renata Pallottini.
No mesmo caminho de "O Clone",
"Mulheres Apaixonadas" também comove ao chamar a atenção para a dependência química e ao apontar uma luz no
fim do túnel. "As pessoas vêm me falar
sobre a importância do nosso trabalho
de conscientização a respeito do alcoolismo de mulheres na menopausa", diz Vera Holtz, que interpreta a alcoólatra Santana. "Os "Alcoólicos Anônimos" sempre
me ligam para comentar e dar dicas."
Mas nem tudo é elogio. Pallottini
aponta algumas falhas. "A Vidinha [Julia
Almeida] aparece muito e não tem função. E a Lorena [Susana Vieira] virou
porta-voz do autor e dá lições de moral
em quase todos os capítulos. Está ficando chata", diz ela.
Diversidade
Farta em personagens -marcas do autor-, o que não
falta ao enredo de "Mulheres Apaixonadas" é assunto. As idéias não são novas.
Segundo Carlos, antecedem outro sucesso, "Laços de Família" (2000), que também primou pelos conflitos femininos.
"Montei um painel, reunindo mulheres às voltas com seus problemas sentimentais. O critério para a escolha dos temas baseou-se no testemunho que tenho
de todos os casos", diz ele.
As atrizes adoraram. Lavínia Vlasak,
por exemplo, no papel da ricaça Estela,
que, além de ter a cabeça nas nuvens,
quer porque quer o amor de um padre
(atraente, lógico), diz que a trama tem
assunto suficiente para escrever "todas
as novelas do mundo". "O problema das
novelas é que elas são sempre aquele lengalenga. Esta, não: tem várias coisas
acontecendo", afirma.
Renata Pallottini também gostou do
resultado. "Não acho que sejam muitas
tramas. O que acontece é que todas giram em torno da figura feminina."
E bota trama nisso: de neta desnaturada a madame de olho no namorado da
empregada, há quem balance entre o
amor e a virgindade, entre a solidão e o
marido violento, entre a insatisfação e o
medo da liberdade. Parte da audiência
pode até achar exagero, mas fica firme.
"O autor está exagerando. Mulher
equilibrada, ali, tá difícil", diz o analista
de sistemas Cristiano Cruz, 27, que assiste à novela diariamente. "O título deveria
ser "Mulheres Problemáticas'", sugere.
Helena Ranaldi responde: "A história é
totalmente voltada à ótica feminina. Não
acho que elas sejam problemáticas".
Já o bancário Caio Rodrigo, 26, concorda "plenamente" com o autor. "A realidade é aquilo lá, e até pior. As mulheres
são complicadas e pegajosas mesmo."
No centro da discussão, Manoel Carlos
sentencia: "As mulheres são maravilhosamente complicadas". Ao que Lavínia
Vlasak rebate: "Queria ver se homem tivesse TPM!".
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