São Paulo, domingo, 01 de setembro de 2002

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"Engraçadinha" não vê TV

CARLA MENEGHINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Revelada na TV como protagonista de "Engraçadinha - Seus Amores e Seus Pecados", que a Globo exibiu em 1995 e reprisa atualmente, às 23h, Alessandra Negrini, 31, destacou-se pela ousadia com que encarnou a personagem-título da minissérie. Mas ela não temeu debutar com um papel tão sexualizado. "Eu estava protegida por ele [Nelson Rodrigues]".

Qual a importância de Engraçadinha na sua carreira?
Foi ela quem me apresentou na TV. Tenho muito orgulho de ter sido lançada com um texto de Nelson Rodrigues.
É um desafio para o ator interpretar um texto de Nelson Rodrigues?
Ele é maravilhoso para qualquer ator, pois está tudo ali. Se você realmente mergulha naquele universo, os diálogos saem muito naturalmente.
Você tem assistido à reprise?
Só vi duas vezes. A minissérie não envelheceu. É sempre difícil me ver na TV. Acho que amadureci muito. Não sei se hoje faria uma Engraçadinha melhor, mas, com certeza, faria diferente.
Você temeu estrear com um papel tão sexualizado?
Se eu temesse, não teria feito. Se fosse um papel sensual qualquer, talvez eu não topasse, mas como era Rodrigues eu encarei. Eu estava protegida por ele.
Como você se sente sendo vista como símbolo sexual?
Eu acho engraçado. É só uma imagem, não tem a ver comigo.
Boa parte das suas personagens são malvadas ou descaradamente sedutoras. Você teme ser associada a esse estereótipo, como é comum acontecer?
Não concordo. Nenhuma de minhas personagens era má, nem mesmo a Selma de "Desejos de Mulher". Tendo a pegar papéis, eu diria, mais intensos. Tenho um estilo de esquerda, trágico, que não tem a ver com mocinhas comportadas. Mas não gosto de pensar personagens como boas ou más.
Como foi interpretar Selma?
A Selma não era tão malvada. De vilã, ela passou a ser heroína. Me trouxe muito carinho do público. Mesmo fazendo maldades contra a protagonista, tinha gente que me parava na rua para dizer que admirava a força da Selma.
Você se surpreendeu com o grau de violência que a novela adquiriu?
Não me surpreendo com nada da TV, há violência demais. "Desejos" é passível de crítica sim, mas era o que o público queria ver. O autor foi atrás de ibope. A audiência só subiu quando a novela ficou mais violenta. Então a culpa é da novela ou da sociedade?
Você permitiu que seu filho, de cinco anos, visse a novela?
Meu filho não assiste televisão.
Por que?
Porque nós não vemos TV lá em casa.
Nem um pouco?
Nada. Não temos hábito e não sentimos falta. Às vezes, vemos algum documentário do Discovery, os únicos programas que valem a pena. Tenho coisas mais interessantes e úteis para fazer, como ler ou conversar. Mas reconheço o valor da TV e acho importante lutar pela qualidade da programação, que está muito ruim.
Você já tem algum plano profissional para depois do merecido descanso?
Não consigo pensar em outra coisa senão em parar. Preciso descansar minha imagem. Televisão, agora, nem pensar.



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