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"Engraçadinha" não vê TV
CARLA MENEGHINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Revelada na TV como protagonista
de "Engraçadinha - Seus Amores e
Seus Pecados", que a Globo exibiu em
1995 e reprisa atualmente, às 23h, Alessandra Negrini, 31, destacou-se pela
ousadia com que encarnou a personagem-título da minissérie. Mas ela não
temeu debutar com um papel tão sexualizado. "Eu estava protegida por ele
[Nelson Rodrigues]".
Qual a importância de Engraçadinha
na sua carreira?
Foi ela quem me apresentou na TV.
Tenho muito orgulho de ter sido lançada com um texto de Nelson Rodrigues.
É um desafio para o ator interpretar
um texto de Nelson Rodrigues?
Ele é maravilhoso para qualquer ator,
pois está tudo ali. Se você realmente
mergulha naquele universo, os diálogos saem muito naturalmente.
Você tem assistido à reprise?
Só vi duas vezes. A minissérie não envelheceu. É sempre difícil me ver na
TV. Acho que amadureci muito. Não
sei se hoje faria uma Engraçadinha melhor, mas, com certeza, faria diferente.
Você temeu estrear com um papel tão
sexualizado?
Se eu temesse, não teria feito. Se fosse
um papel sensual qualquer, talvez eu
não topasse, mas como era Rodrigues
eu encarei. Eu estava protegida por ele.
Como você se sente sendo vista como
símbolo sexual?
Eu acho engraçado. É só uma imagem, não tem a ver comigo.
Boa parte das suas personagens são
malvadas ou descaradamente sedutoras. Você teme ser associada a esse estereótipo, como é comum acontecer?
Não concordo. Nenhuma de minhas
personagens era má, nem mesmo a
Selma de "Desejos de Mulher". Tendo
a pegar papéis, eu diria, mais intensos.
Tenho um estilo de esquerda, trágico,
que não tem a ver com mocinhas comportadas. Mas não gosto de pensar
personagens como boas ou más.
Como foi interpretar Selma?
A Selma não era tão malvada. De vilã,
ela passou a ser heroína. Me trouxe
muito carinho do público. Mesmo fazendo maldades contra a protagonista,
tinha gente que me parava na rua para
dizer que admirava a força da Selma.
Você se surpreendeu com o grau de
violência que a novela adquiriu?
Não me surpreendo com nada da
TV, há violência demais. "Desejos" é
passível de crítica sim, mas era o que o
público queria ver. O autor foi atrás de
ibope. A audiência só subiu quando a
novela ficou mais violenta. Então a culpa é da novela ou da sociedade?
Você permitiu que seu filho, de cinco
anos, visse a novela?
Meu filho não assiste televisão.
Por que?
Porque nós não vemos TV lá em casa.
Nem um pouco?
Nada. Não temos hábito e não sentimos
falta. Às vezes, vemos algum documentário do Discovery, os únicos programas
que valem a pena. Tenho coisas mais interessantes e úteis para fazer, como ler ou
conversar. Mas reconheço o valor da TV e
acho importante lutar pela qualidade da
programação, que está muito ruim.
Você já tem algum plano profissional
para depois do merecido descanso?
Não consigo pensar em outra coisa senão em parar. Preciso descansar minha
imagem. Televisão, agora, nem pensar.
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