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MEU MUNDO CAIU
Ex-calouros dizem que a exposição rendeu fama e shows
"Órfãos" de Raul Gil somam perdas e ganhos
DA REPORTAGEM LOCAL
CHARLES Henrique de Souza
Henriques, 26, estava em algum
ponto dos 500 quilômetros entre São
João da Barra (interior do Rio) e São
Paulo quando soube, pelo rádio, que o
quadro dos calouros do programa Raul
Gil (Record) havia sido suspenso.
"Não atiro pedras porque apareci para
o Brasil inteiro sem pagar jabá", diz ele,
que arcou com os R$ 2.000 gastos com
passagens, alimentação e gravação de
playbacks durante os dois meses em que
participou da atração.
"Era muito cansativo, mas foi recompensador", diz o tenor Ricardo Regis, 24,
que ficou 27 semanas no programa. "A
emissora pagou todas as minhas despesas das viagens", diz Regis, contabilizando shows Brasil afora.
Nem todos tiveram a mesma sorte. Ricardo Moisés, 32, de Fernandópolis, a
500 quilômetros da capital, afirma que
fez parte do quadro por mais de seis meses sem ter ajuda de custo, e que deixou
de trabalhar para participar.
Assim como ele, o professor de música
Flávio Henrique, 26, abriu mão dos alunos para se dedicar à atração. "Graças a
Deus recuperei quase todos", diz.
A maior preocupação dos calouros, no
entanto, é quanto à validade dos contratos de exclusividade de seis meses no
programa. "Eles não têm compromisso
comigo, nem eu com eles", diz Raul Gil,
afirmando que todos receberão o cachê
prometido pela Record.
Comenta-se nos corredores da emissora, inclusive, que o apresentador prefere
que o pagamento seja feito no palco do
programa, até o final do mês.
"Eles acumulavam R$ 500 por semana
se permanecessem no grupo dos melhores. Podiam pegar o dinheiro e ir embora. Mas só ficaram preocupados com isso
agora", diz Gil.
Adriana Mayumi, 30, lamenta que o
concurso "Usina de Talentos", no qual
os 23 melhores do ano disputavam a gravação de um CD solo, tenha acabado antes do fim: "Foi um balde de água fria".
"De repente virei "Patrícia Camin", reconhecida nas ruas. Daqui a pouco vou
ser a mera "Patrícia" de novo, e isso é
ruim. Se você não está na mídia, não é
ninguém", diz a paulistana de 31 anos.
As queixas de Joe Hirata, que em 1994
venceu 80 mil candidatos no concurso de
calouros da emissora NHK, no Japão,
são outras.
"Raul Gil deu aos descendentes de
orientais a chance de afirmarmos nossa
brasilidade, já que a TV só nos mostra
pejorativamente, como estrangeiros donos de pastelarias e tinturarias".
Magoado, Raul Gil diz que, por ter contrato até 2005, tem que acatar. "Muita
gente pensou que eu estava ganhando
milhões com os calouros, mas não estava. A Record se esquece de que o país inteiro está reclamando. O pessoal liga pra
mim e diz: "ô Raul, você é burro de tirar
os calouros do ar?'".
Segundo ele, o vice-presidente da
emissora, Denis Benaglia Munhoz, foi
quem lhe comunicou o fim da atração.
"Ele disse que o bispo Clodomir dos Santos, o presidente, não queria mais. Falou
que "cansou'", diz Gil.
Procurado pelo TV Folha, Munhoz
respondeu alegou falta de espaço em sua
agenda.
(FERNANDA DANNEMANN)
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