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MÁFIA QUE CATIVA
Ator fala sobre a série; quarta temporada estréia hoje, no HBO
Pantoliano diz que com os Sopranos não há impunidade
ALESSANDRA VITÓRIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES
ATUALMENTE , Joe Pantoliano
pode ser visto na Broadway, nu em
pêlo, na ousada montagem de "Frankie
& Johnnie", ou nas prateleiras das livrarias, com seu livro de memórias "Who's
Sorry Now", que está para virar filme.
Mas é no papel de Ralph Cifaretto,
aquele capo sangue ruim da série "Família Soprano", cuja quarta temporada estréia hoje, às 21h, no canal pago HBO,
que Pantoliano se tornou um dos vilões
mais controvertidos dos últimos tempos. Na TV aberta, o seriado pode ser visto no SBT, que exibe a terceira temporada nas madrugadas de quarta, à 1h45.
Você sente que finalmente cruzou a barreira do estrelato?
Sem dúvida que sim, e sou muito grato
por isso, mas saiba que sou o tipo do sujeito que está sempre esperando pela
próxima leva de bons papéis. É a natureza da indústria de entretenimento e, de
certa forma, é a natureza do mundo, um
lugar onde reina a impermanência. Agora que estou aproveitando todo esse sucesso, nós estamos às portas de uma
guerra contra o Iraque. Eles estão explodindo prédios em Nova York, meus amigos estão sendo mortos, e eu estou preocupado com o futuro dos meus filhos.
Apesar de todas as coisas boas, não dá
para evitar a realidade do mundo.
A quarta temporada da série está estreando no Brasil. Você sabia o que aconteceria com seu personagem?
Quando David Chase [criador da série]
me contratou, disse que Ralph seria um
personagem engraçado, charmoso, mas
essencialmente um homem mau. Me parece que a equipe de roteiristas acabou se
apaixonando por Ralph. Com o tempo,
ele foi se tornando mais encantador.
Nessa quarta temporada, eles se concentraram em mostrar o porquê de ele ser
tão diabólico, o que eu particularmente
aprecio muito, pois, na verdade, é um sujeito que foi seviciado pelos próprios pais
quando menino.
Sendo descendente de italianos, o que
você acha da maneira como a comunidade
ítalo-americana é retratada na série?
Meus avós nasceram na Itália, e meus
pais, nos Estados Unidos. Eu não falo italiano, nem tampouco conheço a região
de onde vem minha família, que é Avelino, em Nápoles, por coincidência, a mesma região de onde vem a família Soprano. David Chase fez um episódio em que
Tony vai a Nápoles e Paulie [Tony Sirico]
tenta se comunicar com italianos que
não têm a mínima idéia do que ele está
tentando dizer. Esse é um dos exemplos
da sutileza do roteiro, que eu adoro, a
maneira irreverente como eles lidam
com a tradição. Mas não acho que os ítalo-americanos são retratados de maneira
depreciativa. Eu acho que os criminosos,
sim, são vistos de maneira depreciativa.
Se eu fosse um bandido, de ascendência
italiana, ou um membro da máfia, ficaria
bastante ofendido.
Como foi composto o visual de Ralph?
A única coisa sob a qual tive autonomia
criativa foi o guarda-roupa dele. Eu disse
que não queria ser igual a outros mafiosos. Não queria me vestir como Tony,
preso num colarinho e paletó. Eu quis
que Ralph transcendesse, razão pela qual
eles descoloriram os meus cabelos. Durante a filmagem dessa quarta temporada, os atores começaram a ficar frustrados com seus penteados. Aquelas perucas começaram a dar problemas, certos
ângulos de câmera não combinavam, e
começou a criar-se um clima de tensão.
Então, David pôs fim às perucas. O que
foi muito sensato da parte dele.
A que você atribui o sucesso da série?
Acho que é pelo fato de que existem limites e sérias consequências. Na vida
real, as pessoas são traídas todos os dias,
e não há muito o se possa fazer a respeito.
É fácil escapar à responsabilidade. Basta
olhar para todas as pessoas que investiram no mercado de ações inflacionado,
na CNN, AOL, gente investindo as economias de uma vida inteira. Pelo menos
em "Família Soprano", se alguém lhe
passa a perna pode acabar em maus lençóis. Creio que a série vai acabar se tornando uma espécie de "Jornada nas Estrelas", com continuações.
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