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São Paulo, domingo, 09 de março de 2003

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MÁFIA QUE CATIVA

Ator fala sobre a série; quarta temporada estréia hoje, no HBO

Pantoliano diz que com os Sopranos não há impunidade

ALESSANDRA VITÓRIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

ATUALMENTE , Joe Pantoliano pode ser visto na Broadway, nu em pêlo, na ousada montagem de "Frankie & Johnnie", ou nas prateleiras das livrarias, com seu livro de memórias "Who's Sorry Now", que está para virar filme. Mas é no papel de Ralph Cifaretto, aquele capo sangue ruim da série "Família Soprano", cuja quarta temporada estréia hoje, às 21h, no canal pago HBO, que Pantoliano se tornou um dos vilões mais controvertidos dos últimos tempos. Na TV aberta, o seriado pode ser visto no SBT, que exibe a terceira temporada nas madrugadas de quarta, à 1h45.

Você sente que finalmente cruzou a barreira do estrelato?
Sem dúvida que sim, e sou muito grato por isso, mas saiba que sou o tipo do sujeito que está sempre esperando pela próxima leva de bons papéis. É a natureza da indústria de entretenimento e, de certa forma, é a natureza do mundo, um lugar onde reina a impermanência. Agora que estou aproveitando todo esse sucesso, nós estamos às portas de uma guerra contra o Iraque. Eles estão explodindo prédios em Nova York, meus amigos estão sendo mortos, e eu estou preocupado com o futuro dos meus filhos. Apesar de todas as coisas boas, não dá para evitar a realidade do mundo.
A quarta temporada da série está estreando no Brasil. Você sabia o que aconteceria com seu personagem?
Quando David Chase [criador da série] me contratou, disse que Ralph seria um personagem engraçado, charmoso, mas essencialmente um homem mau. Me parece que a equipe de roteiristas acabou se apaixonando por Ralph. Com o tempo, ele foi se tornando mais encantador. Nessa quarta temporada, eles se concentraram em mostrar o porquê de ele ser tão diabólico, o que eu particularmente aprecio muito, pois, na verdade, é um sujeito que foi seviciado pelos próprios pais quando menino.
Sendo descendente de italianos, o que você acha da maneira como a comunidade ítalo-americana é retratada na série?
Meus avós nasceram na Itália, e meus pais, nos Estados Unidos. Eu não falo italiano, nem tampouco conheço a região de onde vem minha família, que é Avelino, em Nápoles, por coincidência, a mesma região de onde vem a família Soprano. David Chase fez um episódio em que Tony vai a Nápoles e Paulie [Tony Sirico] tenta se comunicar com italianos que não têm a mínima idéia do que ele está tentando dizer. Esse é um dos exemplos da sutileza do roteiro, que eu adoro, a maneira irreverente como eles lidam com a tradição. Mas não acho que os ítalo-americanos são retratados de maneira depreciativa. Eu acho que os criminosos, sim, são vistos de maneira depreciativa. Se eu fosse um bandido, de ascendência italiana, ou um membro da máfia, ficaria bastante ofendido.
Como foi composto o visual de Ralph?
A única coisa sob a qual tive autonomia criativa foi o guarda-roupa dele. Eu disse que não queria ser igual a outros mafiosos. Não queria me vestir como Tony, preso num colarinho e paletó. Eu quis que Ralph transcendesse, razão pela qual eles descoloriram os meus cabelos. Durante a filmagem dessa quarta temporada, os atores começaram a ficar frustrados com seus penteados. Aquelas perucas começaram a dar problemas, certos ângulos de câmera não combinavam, e começou a criar-se um clima de tensão. Então, David pôs fim às perucas. O que foi muito sensato da parte dele.
A que você atribui o sucesso da série?
Acho que é pelo fato de que existem limites e sérias consequências. Na vida real, as pessoas são traídas todos os dias, e não há muito o se possa fazer a respeito. É fácil escapar à responsabilidade. Basta olhar para todas as pessoas que investiram no mercado de ações inflacionado, na CNN, AOL, gente investindo as economias de uma vida inteira. Pelo menos em "Família Soprano", se alguém lhe passa a perna pode acabar em maus lençóis. Creio que a série vai acabar se tornando uma espécie de "Jornada nas Estrelas", com continuações.


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