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O $ufoco em cena
Divulgação - Luciana Cavalcanti/Folha Imagem
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No alto, participante atira dardos no programa de Luciano Huck; ao lado Datena, no cenário do "No Vermelho"; à esq., João Kléber, que fará competição entre desempregados |
Programas que promovem competições entre pessoas em dificuldades financeiras proliferam na TV
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RODRIGO RAINHO
DA REDAÇÃO
O ASSISTENCIALISMO na TV vai
se intensificar a partir do próximo
domingo, com a estréia de "No Vermelho", na TV Record, e de "Emprego na
TV", na segunda (dia 18), dentro do "Canal Aberto", da Rede TV!. Essas competições -assim como o quadro "Agora
ou Nunca", do "Caldeirão do Huck",
(Globo, sábados, às 14h30)- usam a penúria do competidor como combustível.
"A TV precisa da audiência e da publicidade. Para isso, explora e recicla a miséria, dando em troca dinheiro ou emprego, e a chance de ser feliz", diz o psicanalista Paulo Roberto Cecarelli. "A pobreza "alimenta" os programas."
"No Vermelho", que será apresentado
pelo jornalista José Luis Datena, leva ao
palco quatro pessoas endividadas. Os casos mais "tocantes e interessantes" têm
prioridade, segundo a Sony Pictures e a
TV Record, co-produtoras da atração.
Os participantes disputam provas de
criatividade e habilidade. Reportagens
comentadas por Datena contam os dramas dos endividados. Em cada bloco,
um deles é eliminado, mas ganha a quantia de dinheiro que acumular no jogo.
Na última fase, o "sobrevivente" tenta
decifrar enigmas. Se vencer, sua dívida
-nunca muito alta- é paga pela produção. "Não vamos explorar a desgraça
alheia, como esse negócio de dar cadeira
de rodas", diz Datena. "O nosso programa é o único que assume o fato de que
está pagando as contas de alguém."
Desemprego
O "Emprego na
TV", que será comandado por João Kléber na Rede TV!, promoverá uma disputa entre dois desempregados por um
posto de trabalho, vaga oferecida por
empresas parceiras do "Canal Aberto",
programa repleto de reportagens sensacionalistas, testes de DNA e "barracos"
incentivados pelo apresentador.
O "game" da Rede TV! terá duas partes: os candidatos respondem a perguntas sobre conhecimentos gerais e, no final, passam por testes práticos, referentes ao trabalho que postulam. Quem
conquistar maior número de pontos nos
testes e o favoritismo do público, que votará por telefone, leva o emprego. Um
consultor de recursos humanos será o
responsável pela "aprovação".
"O "Emprego na TV" é um jogo, o derrotado não fica com a imagem prejudicada. Não há pior exposição do que o cara pedir emprego de porta em porta", diz
Kléber. "A crítica só dá cacete em mim. O
novo quadro tem o cunho de mudar a
minha imagem", afirma, dizendo que é
melhor dar emprego do que pagar dívidas. "Não deixa de ser uma exposição de
um problema social na TV, mas pior que
isso é pagar a dívida de uma pessoa, ela
se acostuma e não vai procurar emprego", diz ele.
Laurindo Leal Filho, sociólogo e membro da ONG TVer, que analisa a programação televisiva, discorda. "Os novos
"games" desrespeitam a dignidade humana, na medida que expõem a fragilidade
das pessoas. É uma violência."
Para Leal Filho, o perdedor sai do programa em situação pior: "O derrotado
paga o preço da perda da dignidade. Ele
mostrou à sociedade que não tem condições de realizar seus objetivos".
Sonhos
Na TV Globo, o "Caldeirão
do Huck" distribui dinheiro a pessoas
carentes no quadro "Agora ou Nunca".
Os selecionados enfrentam provas criadas pela produção, com a finalidade de
ganhar a premiação em dinheiro e realizar um sonho comum.
"Preciso de R$ 10 mil para pagar meu
imóvel [e casar". Tenho fé e vontade",
disse Ulisses Leite, participante do "Agora ou Nunca" do sábado retrasado.
Depois de ver uma reportagem sobre
seu drama, feita com todos os participantes do quadro, ele arremessou dardos no alvo e levou o desejado dinheiro
para casa.
"Me envolvo com as histórias. Leio as
cartas e torço para eles, porque precisam
muito do dinheiro", diz o apresentador.
"Aquele prêmio não resolve a vida dele,
mas ameniza a situação."
Huck afirma que quem perde pode receber uma ajuda fora do ar. "Já aconteceu algumas vezes, mas não levamos isso
ao ar. Não quero explorar a tristeza."
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