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CRÍTICA
Os radialistas estão chegando
EUGÊNIO BUCCI
SE ISSO fosse um filme, deveria ser visto ao som de Jorge Benjor entoando "os alquimistas estão chegando".
Sem esquecer aquele ô-ô-ô-ô ao fim do refrão. Aquele
ô-ô-ô-ô reafirma que os alquimistas estão chegando
mesmo, indica que tudo o que a gente achava que já tinha acabado não acabou, ô-ô-ô-ô, e não cessa de recomeçar. Se isso
fosse um filme poderia muito bem se chamar "A Volta dos
que Não Foram". Os radialistas, eles que foram o útero dos
programas de TV, os radialistas do auditório, os radialistas da
radionovela e os radialistas dos programas policiais, eles estão
de volta, exatamente porque nunca se foram.
Veja-se o caso de José
Luis Datena. Ele acaba de se
mudar da Rede Record para a Rede TV (que leva ponto de exclamação, assim:
Rede TV!) com um sucesso
estupendo. Datena é antes
de tudo um radialista. Dos
bons. No dia de estréia de
seu "Repórter Cidadão" na
Rede TV! (!), na segunda
passada, já bateu o seu
substituto na Record, Ney
Gonçalves Dias, que agora apresenta o "Cidade Alerta". No
segundo dia, terça-feira, Datena deu à sua nova casa (!) uma
audiência média de dez pontos no Ibope em São Paulo (!),
com picos de 12 (!), ficando por cerca de uma hora com a segunda maior audiência do horário (!), perdendo apenas para
a Globo (!). De onde vem a força de Datena? Não vem das reportagens de rua (!), nem da variedade de pautas (!), nem das
tomadas aéreas (!) de helicóptero (!). Claro, tudo isso ajuda,
mas o essencial é a capacidade oratória que ele esbanja, o talento de segurar um assunto no ar com a fala fluente, peremptória e enfática de um radialista policial de primeira grandeza.
As tomadas de helicóptero, aliás, viraram objeto de uma disputa subterrânea entre a Record e a Rede TV!. Na segunda-feira, o "Repórter Cidadão", de Datena, tinha suas câmeras
aéreas a cargo do já célebre comandante Hamilton, uma espécie de "heliboy" do sensacionalismo. Na terça, um susto: o comandante Hamilton surpreendeu a audiência ao se mudar de
mala, cuia e helicóptero, abruptamente, para a Rede Record!
(Aqui até Record merece ponto de exclamação.) O comandante Hamilton fez o caminho inverso de Datena. Mas não levou o ibope.
Mais do que qualquer outro tipo de programa, esses que começam a virar uma praga nos finais de tarde, como "Cidade
Alerta", "Brasil Urgente", de Roberto Cabrini, na Bandeirantes, e agora o "Repórter Cidadão", são programas radiofônicos ilustrados. A propósito, Cabrini não consegue emplacar
porque não empolga como
orador. Nesse quesito, Ney
Gonçalves Dias é muito
mais convincente.
É verdade que as novelas,
até hoje, podem ser vistas
apenas pelos ouvidos, ou
seja, você consegue entender toda a trama sem ter de
olhar as imagens (a telenovela, em grande medida, jamais se libertou inteiramente da radionovela), mas a
maior presença do rádio na
alma da TV não se manifesta nas telenovelas: ela pode ser sentida de modo mais marcado nos programas sensacionalistas. Não era à toa que Gil Gomes roubava a cena no velho "Aqui Agora". No gênero da histeria policialesca dos fins de tarde, a coisa se resolve mesmo é
no gogó.
Pois o telegogó voltou a crescer e se multiplicar. O que Datena apresenta agora na Rede TV! (!!!) não é nada mais que uma
réplica do "Cidade Alerta" (!!!) que ele fazia na Record. A coisa
se reproduziu. O que Cabrini tenta fazer na Bandeirantes vibra, ou tenta vibrar, no mesmo diapasão. Só quem falta aderir
à nova moda das seis da tarde são a Globo e o SBT. No mais,
somos uma delegacia só. A delegacia do berro. Para berrar
melhor, os apresentadores ficam o tempo todo de pé. Para
projetar a plenos pulmões para dentro dos ouvidos do público a sua radiofonia paranóica e exclamativa! (!) (Alguém sabe
explicar por que Rede TV! tem essa exclamação aí?)
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