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CRÍTICA
O nada, o nada
BIA ABRAMO
AINDA o "Big Brother".
Então, o Dhomini ganhou os R$ 500 mil de prêmio
e sua primeira aquisição será, se é que já não foi, um
jet-ski. O que significa isso? Assim como no primeiro "Big Brother" em relação a Kléber Bam Bam, essa terceira
edição do "reality show" criou uma espécie de temor coletivo
de que a vitória de Dhomini fosse o fim da picada, pois significaria que forças do obscurantismo, da imbecilidade, da falta
de vergonha na cara, da arrogância ignorante do brasileiro
médio típico também venceriam. E, nesse caso, tais personagens passariam a representar, de alguma forma, o brasileiro médio ou aquilo que o
brasileiro médio admira e até
almeja.
Assim, no primeiro "Big
Brother", dar o prêmio a Kléber Bam Bam seria também
uma maneira de o público autocongratular-se pela sua própria estupidez e simploriedade intelectual. Até mesmo
Kléber Bam Bam justificava
sua popularidade, falando em
"identificação" do público,
embora dê para apostar que
ele repetia a palavra sem estar
lá muito seguro de seu significado. Por onde se dava essa
"identificação", entretanto, não ficou nunca muito claro.
Segundo o mesmo raciocínio, o fato de Dhomini sair vencedor simbolizaria o estado calamitoso em que se encontram os
parâmetros éticos dos brasileiros, portanto premiá-lo seria
recompensar, e mesmo admitir como válidos, o machismo, a
duplicidade, a corrupção, a violência. Com o final da terceira
edição do "Big Brother", o frágil sentido ético brasileiro teria
sofrido mais uma derrota, pois o público teria considerado
merecedor do prêmio um símbolo da falta de ética em vários
âmbitos: na política (o sujeito trabalha para um parlamentar,
e todos os parlamentares são corruptos; logo, ele é corrupto,
ou, no mínimo, conivente com a corrupção), nas relações sociais (de fato e de boato, Dhomini está envolvido em processos por agressão) e no trato com as mulheres (nesse ponto,
nada foi subtraído às câmeras).
Contrapondo-se a essas possibilidades, uma torcida contra
os dois espertalhões, a favor de antagonistas ligeira e aparentemente mais "do bem" -a professorinha baiana agora, a
moça negra na versão anterior-, se formou e firmou nas semanas que antecederam o desfecho. E, desta vez, com a ajuda
bastante consciente do apresentador Pedro Bial, que de tolo
e ignorante não tem nada e foi
sugerindo ao público essa "leitura" dos simbolismos do programa.
Será mesmo que o "Big Brother" tem esse poder de representar o caráter nacional? Antes
de qualquer coisa, "Big Brother" é um programa de televisão, não um experimento sociológico. Antes ainda de qualquer outra consideração, o
"reality show", como definiu
com precisão o professor da
ECA-USP Roberto Moreira em
reportagem publicada na revista eletrônica "Trópico" , é aparentado da fofoca, agora produzida e consumida em escala
industrial.
Na contracorrente de uma idéia que se alastra como mato, a
vitória de Dhomini, assim como a de qualquer outro participante do "Big Brother", talvez signifique rigorosamente nada.
Para o bem e para o mal, talvez Dhomini não represente coisíssima nenhuma e seja só mais um tolo endinheirado entre
tantos outros cuja cara e presença na TV e nas revistas de celebridades teremos que aturar nos próximos (poucos) meses.
E-mail: biabramo.tv@uol.com.br
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