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TELEPALANQUE
Jornalista é considerada a mais agressiva em entrevistas com candidatos na TV Globo
"Minha função é incomodar mesmo", diz Miriam Leitão
CARLA MENEGHINI
DA REPORTAGEM LOCAL
"MEU ESTILO é agressivo mesmo", afirma a jornalista Miriam Leitão, que ganhou fama de brigona depois da rodada de entrevistas com os
presidenciáveis que comandou, com Renato Machado, no "Bom Dia Brasil", na
Globo, de 26 a 29 de agosto.
"Numa entrevista como essa, o jornalista tem de ter frieza e objetividade. O
eleitor está apaixonado por seu candidato, e a função do entrevistador é incomodar mesmo, tanto o candidato quanto
seu eleitor", diz ela.
Marqueteiros dos candidatos consideraram as séries de entrevistas do "Bom
Dia Brasil" e do "Jornal da Globo", comandado por Ana Paula Padrão, as mais
agressivas. "Os candidatos precisaram se
impor, porque as interrupções eram
constantes e pesadas. Muitas vezes, eles
acabam transformando a entrevista num
bate-boca sem sentido, que não é produtivo para ninguém", diz Carlos Rayel, diretor de comunicação da campanha de
Anthony Garotinho (PSB).
Também para Nelson Biondi, marqueteiro de José Serra (PSDB), as perguntas
mais agressivas ou, como ele definiu, "de
tom mais espetado" foram feitas por Miriam Leitão e Ana Paula Padrão. "Elas
não deram colher de chá para nenhum
deles, mas acho que o clima só fica tenso
se o candidato resolver enfrentá-las à altura", diz Biondi.
Miriam afirma que, após cada entrevista realizada, chegaram centenas de e-mails de telespectadores, uns elogiando,
outros criticando. "Muitos reclamaram
do tom agressivo ou das minhas interrupções; confesso que quando assisto às
fitas sempre identifico momentos em
que realmente não deveria ter me metido, mas a TV não dá uma segunda chance", diz a jornalista.
Seu tom agressivo, segundo ela, foi intencional e planejado. "Assisto a entrevistas antigas e atuais deles e observo como cada um costuma reagir a ataques; a
partir daí, elaboro a forma mais incômoda de fazer cada pergunta."
De acordo com Miriam, o candidato
mais tranquilo foi Luiz Inácio Lula da
Silva (PT), que costuma dar respostas
"calmas" aos ataques. "Já Serra frequentemente responde de forma técnica, esbanjando números; Garotinho nega toda e qualquer acusação; e Ciro Gomes
(PPS) parte para o contra-ataque", conta. "Considerando esses perfis, tento cutucar todos de forma equilibrada."
Para Miriam, a maior dificuldade foi
evitar que eles usassem o espaço como
palanque e falassem o que quisessem.
"Sei que isso provoca raiva no telespectador, mas tenho que interromper até o
candidato responder, pois o espaço é para cutucar. Eles já têm o horário gratuito
para discursar."
Apesar dos ataques a que os candidatos são submetidos nas entrevistas, o
marqueteiro de Serra afirma que a sabatina compensa: a curiosidade do eleitor
pelo horário político tem sido maior que
nas outras eleições, em que não houve
tantas entrevistas com presidenciáveis.
Na Globo desde 1995, Miriam Leitão
não se importa com a fama de brigona.
"Fico muito orgulhosa por poder ampliar o espaço democrático", diz.
Padrão Globo
Procurada pela reportagem do TV Folha, a jornalista Ana
Paula Padrão não foi autorizada pela
emissora a falar. A Central Globo de Comunicação enviou, por escrito, comunicado em que afirma: "A Globo tem certeza de que está prestando um serviço ao
eleitor (...). E que está fazendo o trabalho
com o equilíbrio necessário".
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