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ÁGUAS PASSADAS
O humorista, que criticou várias vezes o grupo, grava uma participação especial que deve ir ao ar nesta terça-feira
Dez anos depois, Chico Anysio se reconcilia com os cassetas
MARCELO BORTOLOTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
DEIXANDO as mágoas para trás, o
pessoal do Casseta & Planeta e o humorista Chico Anysio se reconciliaram
na última terça-feira, quando os personagens Bozó e Alberto Roberto contracenaram com Reinaldo, Hélio de La Peña
e Maria Paula. As cenas deverão ir ao ar
depois de amanhã e põem fim às rusgas
surgidas há cerca de dez anos, quando os
cassetas iniciavam a carreira na TV e foram duramente criticados por Chico.
"O Chico nos soltou algumas farpas,
mas a personalidade dele é assim mesmo, não foi uma exclusividade nossa",
diz o casseta Cláudio Manoel, que teve a
iniciativa de convidar o veterano humorista para uma participação especial.
"Sua participação tem essa coisa legal
de causar um ruído. Agora que o programa completa dez anos, é interessante receber um convidado que não teria espaço há algum tempo atrás porque não
gostava muito da gente", afirma Manoel.
Os próprios cassetas escreveram as falas de Chico Anysio como Bozó e Alberto
Roberto. No caso deste último, o quadro
faz uma pequena alusão à antiga desavença. "O cara [Chico" é uma lenda na
TV brasileira, dispensa elogios, todo
mundo sabe. Ele marcou a história do
humorismo no Brasil com tipos absolutamente geniais, que orgulhariam qualquer criador de humor", enaltece Manoel, que interpreta o marombeiro Massaranduba e "seu" Creysson.
Chico afirma ter ficado satisfeito com o
resultado e elogia o trabalho de redação
dos cassetas. Segundo ele, também em
termos de representação dramática -a
principal crítica feita por ele aos cassetas
no passado-, o grupo evoluiu bastante.
"Não há como comparar o trabalho de
hoje com o do começo. Eles não eram
atores, se escoravam num texto muito
bom, e assim vieram. Hoje já sabem como a coisa deve ser feita. Já sabem compor um tipo sem escorregões", avalia
Chico Anysio.
O humorista diz, no entanto, que nunca teve qualquer desavença com os cassetas: "Isso é lenda. Eu sempre gostei do
humor deles, e sempre fui seu leitor no
tempo da revista".
Cláudio Manoel concorda em parte,
dizendo que realmente não havia um clima pessoal, porque não existia convívio
para isto. "Foi meio um disse-que-disse.
Mas foi bom para gerar reportagens."
"Cara justo"
Apontado como artista polêmico, Chico Anysio já entrou
em desacordo com alguns colegas de
profissão. Há dois anos, chegou a irritar a
direção da Rede Globo ao disparar críticas severas à condução da emissora.
"Minha personalidade não é polêmica.
Eu sou um cara justo, luto por mais empregos para meus colegas comediantes,
por mais programas de humor, e por um
respeito maior aos que pertencem a essa
classe", afirma Chico.
Ele se diz discriminado. "O fato de eu
atuar na televisão faz com que se cometa
a barbaridade de editarem um livro,
"Cem Melhores Contos Brasileiros" (Ed.
Objetiva), e não incluírem nenhum meu.
Minhas músicas são quase renegadas,
minha pintura é desqualificada, meus
comentários de futebol são considerados
idiotas, minhas poesias nem chegam a
ser lidas...", reclama.
Atualmente, Chico está envolvido na
elaboração de novos programas que pretende apresentar à emissora. "Neste ano,
já entreguei 11, e espero, até dezembro,
entregar mais quatro. O aproveitamento
ou não dos projetos, e nem todos são para mim, depende da TV Globo", diz.
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