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TRAMA DIFERENTE
"Turma do Gueto", série que a Record lança em outubro, vai tirar os negros da eterna posição de coadjuvantes na dramaturgia televisiva
No papel principal
RODRIGO RAINHO
DA REDAÇÃO
A ESTRÉIA da série "Turma do
Gueto", marcada para a última
quinta-feira de outubro, às 22h, na TV
Record, promete inovar a dramaturgia
televisiva colocando negros nos papéis
principais. "O sonho do Netinho [de
Paula, ator e co-produtor" é que o negro
pudesse participar fora da condição de
serviçal", diz Pedro Siaretta, diretor-geral dessa produção independente.
"Turma do Gueto" narra a história de
Ricardo (Netinho), professor de ensino
superior que retorna à periferia de sua cidade natal, São Paulo, para trabalhar na escola pública Quilombo. Nessa volta às
origens, reencontra dois amigos com
destinos diferentes: Jamanta (Nill Marcondes), traficante de drogas, e Edson
(Jorge Marcondes), desempregado. Revê
também Tina (Ana Paula Demambro), a
ex-namorada, e se envolve com a aluna
Pamela (Adriana Alves).
No meio do caminho, aparecem os
problemas enfrentados diariamente pela
população pobre, como fome, violência e
drogas. "Turma do Gueto" terá a dinâmica e a agilidade das séries americanas.
Vamos mostrar a realidade da periferia e
a ascensão social dos negros", diz a roteirista Laura Malin, que tem a experiência internacional de colaborar em roteiros
das séries "Will & Grace" e "Os Simpsons". "Veremos os brancos em papéis
secundários, não vamos tratar da vida
burguesa. É um foco inovador", diz ela.
A primeira temporada terá 16 episódios, com duração de uma hora e meia
cada um. A história é fechada e tem três
núcleos (alunos, professores e comunidade local). Segundo Siaretta, cada capítulo tem custo de R$ 150 mil, divididos
entre Netinho e a produtora Casablanca.
Atores de grupos de teatro do Capão
Redondo, Simony, Compadre Washington (ele mesmo, do grupo musical É o
Tchan), Big Richard e Afro X estão no
elenco. A atriz profissional mais conhecida é Samantha Monteiro, que faz o papel
de Lea, uma professora de ciências, o
quinto personagem dela em TV. A mais
recente atuação aconteceu na novela Marisol, exibida pelo SBT.
Distorção
Para o cineasta Joel Zito
Araújo, autor do livro "A Negação do
Brasil, o Negro na Telenovela Brasileira"
(Ed. Senac), a iniciativa de produzir uma
série com elenco de maioria negra é
"bem-vinda". "Somos um país multiracial, mas o que predomina na TV é uma
estética distorcida, a ideologia do branqueamento, que tenta passar uma idéia
de Primeiro Mundo. É um atraso e uma
atitude preconceituosa", afirma.
Araújo, no entanto, tem uma preocupação: "É muito boa a iniciativa do Netinho, pode criar um novo estilo, mas meu
temor é de que os negros sejam representados apenas em suas vivências nas favelas, como em "Cidade de Deus". Temos 8
milhões de negros nas classes médias. Os
afrodescendentes querem ver histórias
bonitas de negros".
As gravações de "Turma do Gueto" são
feitas em uma cidade cenográfica de
3.000 metros quadrados, erguida no
bairro paulistano da Bela Vista, e em outros dois estúdios da produtora Casablanca. A captação de imagens é digital, e
a direção segue conceitos do cinema.
A idéia é transformar a série em um filme. "O professor vai passar mensagens
positivas ao telespectador. Ele acredita
no seu sonho e começa a mudar a comunidade", diz Claudio Callao, diretor-assistente da série.
O ex-jogador Pelé gravou algumas chamadas de "Turma do Gueto" e se ofereceu para participações especiais.
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