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ENTREVISTA
Depois do veto da Globo à trama de Gilberto Braga, Manoel Carlos interrompeu as férias para preparar a substituta de "Esperança"
O autor do plano B
Roberto Price/Folha Imagem
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Manoel Carlos no escritório, no Rio, onde está escrevendo "Mulheres Apaixonadas" |
FERNANDA DANNEMANN
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
NO AR por quase um ano e meio,
com a reexibição das novelas "História de Amor" e "Por Amor", e da minissérie "Presença de Anita", o autor
Manoel Carlos, 69, só emplacaria outra
novela em setembro de 2003, mas foi
convocado antes da hora pela TV Globo,
que rejeitou a sinopse de Gilberto Braga.
De volta dos Estados Unidos, onde
aproveitava suas férias, o autor está escrevendo "Mulheres Apaixonadas", que
deve estrear em fevereiro, às 20h30.
Autor cujas tramas são escritas para o
horário noturno e reprisadas pela Globo
no meio da tarde, ele diz que os pais devem tomar conta do que os filhos assistem na televisão.
Como surgiu a idéia para "Mulheres
Apaixonadas"?
A idéia do título é antiga. Fiquei um
ano em Nova York e ficaria mais um,
porque minha próxima novela entraria
em setembro do ano que vem, já que, antes, uma do Gilberto Braga substituiria
"Esperança". Sempre tenho idéias na cabeça. Anoto passagens engraçadas que
as pessoas me contam. De repente, a Globo me convocou para outra novela. Cheguei em agosto com tudo na cabeça e já
estou escrevendo o quarto capítulo.
A novela cria vida própria?
A história tem que ter começo, meio e
fim, o que não significa que eu vá seguir a
idéia original. A vida não tem sinopse, o
que não quer dizer que você não tenha
planos para cada dia. Em "Sol de Verão",
pensei em criar um romance entre Tony
Ramos, que fazia um surdo-mudo adorado pelo público, e a Carla Camurati,
uma aeromoça viajada. Mas, nas ruas, as
pessoas me disseram que não tinha nada
a ver, e eu descartei a idéia. O público noveleiro, que é de 30, 40, 50 milhões de pessoas (é uma eleição do Lula), entende
do assunto melhor do que ninguém.
O que você achou da polêmica em torno
de "Esperança"?
O Benedito [Ruy Barbosa] é um dos
melhores autores do país. O que ouço dizer é que a novela é muito escura ou lenta. Acho que o grande erro foi terem dito
que seria continuação de "Terra Nostra".
Ele negou desde o começo.
É, mas os jornais continuam dizendo.
Todos os novelistas escrevem sobre o
mesmo tema. Nas minhas novelas, a personagem central tem até o
mesmo nome. Emendei "História de Amor" com "Por
Amor" e, nas duas, a personagem central se chamava Helena e era interpretada pela Regina Duarte! Cada autor tem
seu universo. E tem outra coisa: não podemos deixar passar o momento ideal para a
estréia.
O Benedito foi muito desfavorecido pela Copa e pelas
eleições. O horário político
empurra a novela para muito
tarde, e é tão chato que a pessoa desiste de esperar. E eleição presidencial mobiliza a opinião pública de tal
maneira que a novela passa a ser secundária. Nunca houve uma eleição como
essa, e o Benedito perdeu. Há uma única
coisa que ajuda a novela, e que eu preferia que não ajudasse: a violência, porque
as pessoas saem muito menos. O vídeo
substituiu o cinema e a pizza "delivery"
assumiu o lugar do restaurante.
Qual é a história central?
Minha protagonista feminina é sempre uma mulher de
mais de 40 anos, porque é o
universo que acho mais interessante. A mulher de 40 está
no limiar de decisões importantes, é uma idade extremamente vigorosa. Quase sempre ela já passou por um casamento e teve um filho. Não
está velha, mas não é mais
uma mocinha e despertou
para cuidados consigo mesma porque acha que está numa idade perigosa para perder o marido e não atrair
mais ninguém. Na novela, ela tem um casamento que todo mundo acha perfeito
com Téo (Tony Ramos) e rompe pra tentar ser feliz.
Por que Christiane Torloni?
Precisava de uma mulher bonita, determinada, de nariz em pé, com certa arrogância e atrevimento. A Cristiane está
inteiraça, aparenta 38, e acho que tem 45.
Pensei em várias atrizes, mas fiquei fixado nela.
Quem mais está no elenco?
Já tenho José Mayer, Maria Padilha,
Giulia Gam, Paulo Figueiredo, Natália do
Valle, Marly Bueno, Cláudio Marzo. Dei
a partida com 103 personagens.
E o que você pensa da estratégia de reprisar, à tarde, novelas originalmente escritas para às 20h?
Elas têm temática mais abrangente e
um pouco mais forte, né? Não sei se isso
causou escândalo alguma vez. As minhas
eu sei que não causam. Pode ter algumas
coisas fortes, mas não causam. Pela resposta do público, me parece muito normal e de grande aceitação.
Você acha que os pais devem controlar o
que os filhos vêem?
Acho. Mas cada família tem seu comportamento. Com a TV a cabo, o que
aconteceu na minha casa foi o seguinte:
meu filho de dez anos só vê TV paga,
porque a programação dos canais abertos, à exceção de uma ou outra coisa
que possa lhe interessar, é muito pouco
atraente, e a TV a cabo tem tudo o que ele
quer: viagens, curiosidades, música.
Também tem filmes pesados à tarde.
Meu filho não vê televisão à tarde. Mas
eu não sirvo como exemplo
para isso, porque meus filhos
nasceram numa casa onde o
pai trabalha em televisão e o
convívio que sempre tiveram
com a TV e o teatro faz com
que eles não sejam deslumbrados com nada disso. Até o
cinema que é passado na TV
ficou muito normal para eles.
Você é favorável à fiscalização da programação?
A princípio, deve-se cobrar
das emissoras o compromisso
de zelarem pela sua programação. Não para estabelecer
uma censura rigorosa e moralista, mas
para ver se há um nível de qualidade que
possa ser oferecido ao público, e dentro
da faixa etária para o horário. Não deve
haver censura em hipótese nenhuma,
mas a programação precisa ser rigorosamente enquadrada em faixas etárias. Isso
é fundamental. A TV tem de ter um código de ética observado pelas emissoras.
O que você gosta de ver?
Não acompanho nenhuma novela,
mas vejo pedaços. Faz parte
do meu trabalho. Também
assisto ao "Jornal Nacional",
Jô Soares e Boris Casoy.
O que você espera do novo
presidente do Brasil?
Sou eleitor permanente do
Lula, estou muito esperançoso e torcendo por ele. É um
presente para o povo brasileiro a oportunidade de ter no
comando do país um homem
de origem tão humilde e que
enfrentou tantas dificuldades,
como grande parte do próprio povo. Se ele não fizer um
grande governo será uma pena, mas não
terá sido o único. Tantos não fizeram!
Tomara que os políticos profissionais
não o derrubem, porque ele, às vezes,
tem um grau de ingenuidade que é comum a todos os brasileiros.
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