|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
A arte de dublar
Divulgação
|
GUTEMBERG BARROS dublou Schwarzenegger e He-man |
Alugar a voz para personagens de filmes, desenhos animados e seriados é um ofício pouco valorizado no Brasil e que exige uma técnica apurada
PALOMA VARÓN
DA REDAÇÃO
VOCÊ já parou para pensar em
quem faz a voz do seu personagem
favorito de filmes e seriados? "Geralmente as pessoas só prestam atenção na dublagem quando ela é mal feita", afirma
Gutemberg Barros, 32, que dubla o comandante Harmon, da série "JAG", e dirige a dublagem de "Jornada nas Estrelas", ambas do canal pago USA.
Um exemplo disso é o quadro "Fucker
& Sucker", do humorístico "Casseta &
Planeta" (Globo), que satiriza a dublagem das séries americanas. Nos esquetes,
não há sincronicidade nenhuma entre a
voz e o movimento da boca dos atores.
"Eu fico triste quando vejo uma dublagem ruim. Como todo mundo, não gosto
de assistir a um filme mal dublado; fico
chateado quando um colega erra", diz
Barros, cujo desafio em casa é se desligar
da dublagem e apreciar os filmes.
Na maioria das vezes, o trabalho dos
dubladores é pouco reconhecido. Geisa
Vidal, 55, que trabalha há dez anos como
dubladora, diz que é comum chegar ao
estúdio sem saber qual o seu personagem e sobre o que é o filme.
"Infelizmente o nosso tempo é curto e
a gente não faz uma preparação. É tudo
na hora", conta ela, que dubla a capitã Janeway na série "Voyager", do USA, e é a
voz habitual da atriz Geraldine Chaplin
no Brasil. Além disso, Vidal costuma alugar suas cordas vocais para atrizes como
Diane Keaton, Jude Dench e Emma
Thompson.
Mas há quem reconheça a importância
dos profissionais da dublagem. O canal
USA exibe, nos intervalos de sua programação, entrevistas com os dubladores de
suas principais séries. Lá, eles contam
um pouco do trabalho e falam do personagem que dublam.
Dificuldades O dublador Márcio
Seixas tem 56 anos e 28 de profissão. Ele
já foi contratado das principais empresas
de dublagem, como a Herbert Richers e a
VTI, mas hoje trabalha como free-lancer.
Com anos de experiência, Seixas também reclama das condições de trabalho.
"Dublar não é fácil como parece. A
gente precisa ter uma boa leitura e um
bom texto, o que raramente acontece,
pois as traduções costumam ser muito
malfeitas. Com raras exceções, os estúdios não estão preocupados com a qualidade da tradução, o que influi na da dublagem", diz ele, que faz a voz de atores
como Clint Eastwood, Morgan Freeman
e Dennis Quaid no Brasil.
Ricardo Juarez, 32, dublador do personagem Johnny Bravo, do desenho animado homônimo do Cartoon, concorda.
"A tradução, na maioria das vezes, é literal demais. A gente recebe frases que não
fazem sentido. Eu tenho que refazer
muita coisa na hora de dublar", conta.
Ele diz que acaba aproveitando as falhas de tradução para criar em cima do
texto. "No caso do Johnny Bravo, eu
adaptei as gírias e o modo de falar para
um jeito brasileiro. Mexo no texto em
85% das vezes", afirma.
O dublador Guilherme Briggs, 31, dará
voz ao Super-Homem da animação "Liga da Justiça", que vai estrear no dia 1º de
junho no Cartoon. Ele já fez a voz do herói no seriado "Lois & Clark". "Geralmente os estúdios querem uma só voz
para o mesmo personagem", conta. A
voz do Batman de "Liga da Justiça" será
de seu colega Seixas.
"Eu adoro dublar desenhos. São os
meus preferidos. É legal porque a gente
cria em cima", diz Gutemberg, que começou a carreira dando voz a personagens sem expressão.
Até pegar um protagonista, os dubladores precisam dublar muitos personagens que não têm nem nome. "Como em
toda profissão, o começo é difícil. Você
dubla aquele personagem que está de
costas, fora de foco, até ir pegando papéis
melhores", afirma Juarez.
Com o passar dos anos, como no caso
de Seixas, a voz passa a ser reconhecida
até na rua. "Muita gente me aborda e diz
que acha que me conhece de algum lugar, mas, na verdade, reconhece é a minha voz", diz ele, que ficou constrangido
quando um homem o abordou e ficou
relembrando um time de personagens e
atores dublados por ele.
Etapas Na dublagem de um filme ou
um episódio de seriado, há várias etapas.
Primeiro, o trecho do filme é projetado
na tela para que o dublador possa ver a
cena que irá dublar. Depois, ele lê o texto
a ser dito e vê se será preciso fazer alguma modificação. O filme pára e, quando
volta a rodar, o dublador tenta fazer com
que a sua fala se encaixe no movimento
da boca do personagem, respeitando a
respiração e a entonação do ator.
Um dublador profissional ganha cerca
de R$ 35 por hora de dublagem. Para se
dublar um longa-metragem inteiro, quase sempre são necessários dois dias ou
quatro turnos de seis horas. E, para ser
dublador, é preciso ter registro de ator.
Segundo Gutemberg Barros, o valor
total do custo da dublagem de um longa
varia bastante, de acordo com o número
de atores e fatores comerciais, mas fica
em torno de R$ 4.000, sem contar a mixagem das vozes e a edição de som (ruídos e músicas).
Texto Anterior: Ecologia: "Expedições" entra em nova fase Próximo Texto: Atores famosos descobrem um novo filão Índice
|