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QUEDA-DE-BRAÇO
Comissão da Câmara quer pressionar emissoras e anunciantes, mas agências de propaganda temem volta da censura
Publicitários questionam ação contra baixaria na TV
Inácio Teixeira/Associated Press
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Briga no "Programa do Ratinho", um dos que constam no relatório da comissão da Câmara |
MARCELO BORTOLOTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
NO PRÓXIMO dia 29 será lançada
em São Paulo, a campanha Quem
Financia a Baixaria É Contra a Cidadania, idealizada pela Comissão de Direitos
Humanos da Câmara dos Deputados.
Pela primeira vez, o movimento vai apresentar um relatório sobre dez programas
de televisão considerados de baixo nível,
e notificar as emissoras responsáveis.
Caso a emissora não tome nenhuma
providência, o passo seguinte será pressionar os patrocinadores a não veicularem comerciais nem ações de merchandising nos programas tidos como apelativos.
Mas, antes disso, anunciantes e agências de propaganda já estão se posicionando contra a campanha.
Segundo o diretor de mídia da DPZ-Rio, Luiz Fernando Novaes, a pressão sobre os anunciantes não deve surtir efeito.
Para ele, os programas populares são
propícios à veiculação de produtos destinados à classe C, que hoje é uma das mais
importantes do mercado brasileiro. "O
anunciante precisa de liberdade para falar com o seu público e, por isso, tem que
aproveitar os espaços disponíveis que tenham audiência", diz.
A Tigre, anunciante que veicula peças
em programas listados pela comissão,
não pretende mudar de postura. Segundo Mauro Landi, gerente corporativo de
marketing, é preciso que prevaleça a liberdade de escolha e de expressão. "Não
adianta uma comissão de deputados
atribuir a certo programa um rótulo de
sensacionalista. Deveria haver uma investigação junto aos espectadores destes
programas para ver se eles o consideram
de baixo nível", diz.
Para ele, o conceito de sensacionalismo
varia de acordo com pontos de vista. "O
modelo de programa do Ratinho, por
exemplo, é muito praticado na Europa e
nos EUA e tem espaço e público em qualquer lugar", diz.
Cláudio Barres, diretor de mídia da Bates Brasil, agência que atende às Casas
Bahia, diz que é preciso analisar com
cautela os critérios da comissão. "A gente não pode incentivar qualquer tipo de
censura, para isso não virar uma caça às
bruxas", afirma.
Segundo ele, a Câmara dos Deputados
está perdendo tempo, porque as agências e os anunciantes já têm o cuidado de
não veicular comerciais em programas
que consideram de baixo nível.
A gerente de mídia da W/Brasil,
Gleidys Salvanha, também diz que os
clientes possuem meios próprios para
avaliar os programas e já evitam aqueles
que possam prejudicar a imagem do
produto.
"A agência e o cliente é que definem o
critério de repúdio aos programas, e isso
não vai ser mudado por pressão externa", afirma.
Cláudio Venâncio, diretor de mídia da
Fischer América, que atende à cadeia de
lojas Ponto Frio, acredita que os meios
de comunicação têm uma responsabilidade social muito grande, mas diz que
"não gostaria de ver um novo tipo de
censura nascendo no Brasil".
Os dois apresentadores que protagonizam a lista de reclamações da campanha
contra a baixaria, Ratinho e João Kléber,
concordam entusiasmados. Ratinho disse, através de assessoria, que as críticas
contra seu programa não representam
toda a população, possuem embasamento fraco e são fantasiosas. João Kléber
também afirma que seu programa mudou, e não pode mais ser considerado de
baixo nível.
Critérios
O deputado Orlando Fantazzini (PT-SP), coordenador da campanha, diz que a comissão está avaliando os
programas de acordo com critérios de
convenções internacionais.
"Consideramos de baixo nível programas que, entre outras coisas, afrontam
os direitos individuais, aprofundam preconceitos ou estimulam a violência", diz.
De acordo com ele, se os anunciantes
não tomarem nenhuma providência, a
comissão vai lançar uma campanha incentivando os consumidores a boicotarem seus produtos.
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