|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Tive sorte e soube aproveitá-la"
FERNANDA DANNEMANN
FREE LANCE PARA A FOLHA
Geralmente, as protagonistas são atrizes de vinte e poucos anos. Mas você é
uma exceção, já que durante toda a sua
carreira, pegou os papéis principais...
Foi acontecendo assim, não sei exatamente o porquê. Acho que tive muita
sorte e soube aproveitá-la. Tive excelentes personagens, e não posso mesmo me
queixar. Mas as novelas sempre tiveram
casais mais maduros e mais jovens.
Quando eu era jovem, fazia a dupla romântica jovem, e, agora que estou ficando mais velha, tenho feito a dupla romântica mais velha.
Mas em "Desejos de Mulher" a protagonista é você.
Não, não. Acho que as novelas são bem
divididas. Tem a Carolina Ferraz em
"Por Amor", a Regiane Alves em "Desejos de Mulher"... É bem dividido.
E o que você acha de a TV vincular determinados atores a alguns estereótipos?
Você nunca faz o papel de vilã.
Concordo, acho que meus papéis são
sempre do bem, gosto disso. Não gosto
de vilãs em novelas, porque a novela é
muito longa pra você sustentar a situação tão incômoda da vilania. Fico mais
confortável lidando com o bem do que
com o mal ao longo de oito meses. Mas
faria uma vilã num filme, num seriado. E
acho que é um personagem até mais rico,
como desafio, do que as heroínas.
Qual o personagem que você mais gostou de fazer?
Difícil escolher porque personagem é
meio como filho, não dá pra dizer que
gosta mais desse ou daquele. Tive de gostar de todos na medida em que engravidei, gestei e gerei cada um. Sinto que, como repercussão, a Porcina é imbatível, e, logo ali, na raia, corpo-a-corpo, vem a
Malu. As Helenas fizeram muito sucesso,
a Raquel de "Vale Tudo". "Selva de Pedra" também foi outro sucesso. Há pouco tempo, fiz uma cena em "Desejos de
Mulher" em que a Selma corre atrás da
Andréa com uma faca e me lembrei de
"Selva de Pedra", que foi bem arquetípica, aquela coisa da luta do bem e do mal.
Você encarna a imagem do amor materno. Na vida real você é assim?
Não dá pra comparar, né? Novela é folhetim; vida é vida. É diferente. Fiz duas
novelas do Maneco [Manoel Carlos] seguidas. Eu tinha gostado tanto de fazer
"História de Amor", que, na minha cabeça, uma era a continuação da outra. Pedi
à direção da Globo pra fazer mais uma
novela do Maneco, que gosta dessa temática de mãe e filha.
Como você vê a situação da Narjara Turetta - que marcou como sua filha em
"Malu Mulher"- e hoje não consegue
trabalho na TV?
É uma situação difícil. É complicado
mesmo. Fico muito triste em função das
dificuldades que ela tem enfrentado,
porque é uma excelente atriz. Não consigo entender o que aconteceu com ela.
Sua atuação no especial "São Bernardo", baseado no livro de Graciliano Ramos também foi marcante. Por que você
não faz mais esse tipo de trabalho?
Ah, gostaria de fazer, sem dúvida! Gosto de trabalhos mais curtos porque eles
ganham em densidade. Você tem mais
subsídio pra atuar em profundidade,
tem as intenções do personagem... tem a
obra literária ali, pronta, só pra você
mergulhar. Em novela, as coisas acabam
ficando superficiais em face da urgência.
Você recebe um capítulo na sexta-feira
pra gravar na segunda ou terça.
Você acha que a temática de uma novela
das oito é adequada para o horário do
"Vale a Pena Ver de Novo"?
Acho que a censura é uma coisa muito
complicada. Talvez algumas situações
devessem ser amenizadas quando a novela fosse exibida à tarde, porque à tarde
tem muito mais criança em torno da TV,
e sem o controle dos pais, que estão trabalhando. Acho que fica mais por conta
do telespectador mesmo, dos pais e responsáveis.
Você pretende declarar seu voto novamente neste ano?
Declaro, sim, como cidadã tenho todo
o direito de fazer isso. E gosto.
Então declare.
Vou votar no [José] Serra.
E vai fazer campanha?
Não sei. Pelo menos até o final de agosto, está fora das minhas cogitações.
Texto Anterior: Rumos opostos Próximo Texto: "Quero atuar fora da dramaturgia" Índice
|