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TV paga se une para enfrentar crise
Com o número de assinantes estagnado e concentrado na classe A, operadoras de cabo e parabólica tentam popularizar os pacotes
RODRIGO DIONISIO
DA REPORTAGEM LOCAL
O MERCADO de TV paga vai mudar. Com estagnação do número de
assinantes -3,49 milhões de pagantes
em 2001, dos quais 70% concentrados na
classe A-, as operadoras se reuniram
para tentar recuperar o setor.
Para o telespectador, isso poderá significar queda no preço dos pacotes e a
chance de escolher os canais a serem recebidos. Alguns responsáveis pelo serviço pago admitem: para os padrões brasileiros, a TV por assinatura é cara e carrega um conteúdo muitas vezes excessivo e
desinteressante.
Desde o início deste ano, grupos de discussão foram criados na ABTA (Associação Brasileira de Telecomunicações por
Assinatura) para buscar soluções. "Antes de brigarmos entre nós, é importante
fazer o mercado crescer", diz o gerente-geral da Directv, Philippe Boutaud.
São quatro grupos, que agregam representantes das operadoras e estão rediscutindo a programação, a infra-estrutura, o atendimento ao cliente e a tributação. Uma das alternativas seria criar opções de assinaturas mais baratas e flexíveis, condicionadas à redução de impostos por parte do governo.
A intenção é que, até setembro, todas
as propostas estejam fechadas e discutidas com o governo e com as programadoras (empresas responsáveis pela compra e negociação dos canais distribuídos
pelas operadoras). A "nova TV paga" seria apresentada entre 15 e 17 de outubro,
no congresso da ABTA.
Promoções
Por hora, a Directv
lançou os pacotes Prata e Prata Premium. O primeiro, disponível em 143 cidades, custa R$ 44,90 mensais e reúne os
canais AXN, Casa Club, MTV Brasil,
MTV Latina, Sony, Warner, Band
Sports, Discovery, Mundo, People+Arts,
Cartoon Network, Bandnews e TNT,
além do sinal de três rádios, os canais de
áudio e alguns canais da TV aberta (veja
na página ao lado as programações básicas de cada uma das principais operadoras do país).
O Prata Premium, disponível em todo
o país desde o dia 12, agrega ao Prata os
canais HBO, HBO2, Cinemax e Cinemax
Prime, ao custo de R$ 66,80 mensais. Segundo o gerente-geral da Directv, é como se a TV paga lançasse sua versão do
carro popular, o mais barato.
"É um produto mais acessível, mas
com qualidade. Ele serve para o consumidor experimentar e, depois, adquirir
outros serviços", diz Boutaud.
A Associação NeoTV (que reúne operadoras como a TVA e a Cambras e detém cerca de 20% do mercado) se adiantou às discussões da ABTA, renegociou
contratos com programadoras e, segundo seu presidente, Roberto Rio Branco,
já oferece atualmente pacotes no interior
do país por R$ 20.
"Nossos custos com programação caíram de 40% para 32% do faturamento.
Mudamos também a organização dos
canais nos pacotes. Não adianta oferecer
80 canais para o assinante se ele só se interessa por 30", afirma. Com as mudanças, e apesar da estagnação do mercado,
a NeoTV pretende crescer 40% até o final
deste ano.
Preços
Atualmente, segundo dados
da ABTA, o valor médio das mensalidades dos pacotes de TV por assinatura é
de R$ 59, quase 30% do salário mínimo
vigente (R$ 200).
Isso contribui para que a penetração da
TV paga no Brasil seja uma das mais baixas da América Latina: está em 9% dos
lares com televisão. O país empata com a
Nicarágua e só perde para a República
Dominicana (8%). Na Argentina, Uruguai e Colômbia, que detêm os maiores
índices, as taxas são de 65%, 63% e 41%,
respectivamente, segundo números de
2001 da ABTA.
O setor de TV paga encerrou o ano passado com apenas 48.000 assinantes pagantes a mais do que a base total de 2000
(3,442 milhões). Além da classe A (70%),
o consumidor está na classe B (20%), sobrando 10% para as classes C, D e E, ainda segundo a ABTA.
Para o consultor de mídia Antônio Rosa Neto, o perfil da TV paga no país gerou esses números. "O preço e o conteúdo são para as classes A e B mesmo. Mas
o Brasil é um país de classe C, com poder
aquisitivo menor e outros interesses culturais. Sem preços mais baixos e programação regional, não há solução."
O presidente do Grupo de Mídia, Paulo
Stephan, diz acreditar que o problema
esteja na verdade diretamente ligado à situação econômica do país. "Há uma demanda reprimida na classe média, porque as pessoas não têm orçamento para
gastar com diversão, que é considerada
supérflua. Falta dinheiro, e ninguém pode se dar a esse luxo."
Para ele, o preço das assinaturas se justifica pelos altos investimentos feitos pelas operadoras para implantar redes de
cabos ou comprar tecnologia de transmissão por satélite, por exemplo.
Fernando Ramos e Ricardo Rihan, diretores da Net Brasil (responsável pela
programação da Sky e de uma série de
operadoras "franquiadas"), afirmam
que os percalços enfrentados pela TV paga estão ligados a problemas na distribuição de riquezas no país, que afetariam toda a economia.
Até o encerramento desta edição, só a
Net -que detém cerca de 40% do mercado- havia divulgado seu balanço do
primeiro trimestre de 2002. Em relação
aos últimos três meses de 2001, houve
queda de 2,1% no número de assinantes
pagantes (29,8 mil a menos) e de 0,7% na
receita líquida.
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