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RESSURREIÇÃO
Cineasta, cujos filmes estão na Directv, pode apresentar programa
Zé do Caixão ataca TV: "Meninas de 12 anos só pensam em sexo"
FERNANDA DANNEMANN
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de cinco anos fora da TV,
José Mojica Marins, o "Zé do Caixão", está de volta. Até a próxima quinta-feira, em sistema de "pay-per-view",
seus filmes estão na "Semana Trash" do
canal 613 da Directv, incluindo os inéditos "Finis Hominis" (amanhã) e "Perversão - Estupro" (terça). Mojica também está negociando um programa semanal no canal Millenium (17 da TVA).
"Ele tem um público fiel, é um ícone do
cinema brasileiro. Pelo andar da carruagem, vai acabar dando certo", diz Wanderley Valentin, superintendente do
Millenium. Só falta o sinal verde do
Conselho do canal para Zé reabrir seu
caixão na TV.
Por que você não tem espaço na TV?
Eu me pergunto por que não tenho
chance. Quem sabe foi porque nasci autodidata e as pessoas que estudaram
não aceitam que eu seja um ícone no exterior? Uma vez o [cineasta" Gustavo
Dahl me deu um livro sobre cinema e o
Luís Sérgio Person [também cineasta,
1936-76" rasgou, dizendo que minha
linguagem é única e que eu não tinha
que ter influência de ninguém.
Como foi sua última experiência?
Apresentei o "Cine Trash", na Bandeirantes, em 1996 e 1997, às três da tarde,
com picos de 18 de audiência em São
Paulo e 23 no Nordeste. Alavancava a
Silvia Poppovic, que vinha depois, e recebia 3.000 cartas por semana, de crianças e adolescentes. Então veio uma censura camuflada, e o juizado de menores
tirou o programa de Brasília, do Rio e de
São Paulo. À noite, eu não tive como
brigar com o "Tela Quente", até porque
a Bandeirantes começou a reprisar demais os filmes. De lá pra cá, venho fazendo participações.
Como é o programa que você negocia
com o canal Millenium?
Um semanal, com uma hora de duração, produzido pela Quarta Capa Publicidade. A idéia é mostrar entrevistas
com profissionais de cinema, "making
of" de cenas dos meus filmes, aulas sobre como fazer um cinema econômico e
como perder a inibição. E quero mostrar trechos de filmes de diretores anônimos. Gente talentosa que vendeu tudo para fazer uma fita que ninguém
chegou a ver.
Você gosta de assistir à televisão?
TV não tem opção, só vejo filmes.
Gosto de épicos como "Gladiador", e de
terror natural, como "O Silêncio dos
Inocentes". Começaram a fazer uns negócios bárbaros aí, aqueles testes de comer barata e ir a cemitério... [refere-se
ao "reality show" "Hipertensão", da
Globo]. Cansei de fazer isso em 1967, e o
que fazem agora não chega nem aos pés
do que eu fazia.
O que você acha da programação?
É só plágio: eles se plagiam aqui e copiam o que passa lá fora. Plagiam até o
que os americanos não querem mais. Se
as pesquisas fossem ao pé da letra, não
pendessem para canal nenhum, veríamos que o público está chateado porque não tem opção.
O que você acha do rótulo de "trash"?
Depende de como você entende o
"trash". Pode ser lixo e pode ser valioso.
Os estrangeiros definem meu cinema
como artesanal. Aqui, como o povo não
sabe definir, me põe esse rótulo. Mas eu
não ligo porque tenho público.
O que é "trash" hoje na TV?
Metade da programação é "trash" de
verdade, não traz informação e só fala
em sexo, fazendo com que garotas de 12
anos só pensem em sexo, sexo, sexo.
Atrapalha os estudos, e, então, fica difícil um homem encontrar uma Anita
Garibaldi ou uma Evita. E tem a apelação, coisas como o antigo "O Homem
do Sapato Branco": fica muito "trash",
mesmo. Não dá pra aguentar.
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