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SABOR DE FICÇÃO
A Lapa real e a da novela das 18h
ANA PAULA CONDE
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Se alguém que
nunca colocou os pés
na Lapa carioca decidisse
visitar o velho bairro motivado pela novela "Sabor
da Paixão", poderia achar
que errou o caminho. No
dia-a-dia da família Coelho, um dos núcleos principais da trama das 18h da
Rede Globo, o lugar é quase perfeito. Na vida real,
entretanto, a coisa é bem
diferente.
O antiquário Agostinho
dos Santos, 50, sabe que o
bairro é estilizado na TV,
mas ficou tão entusiasmado com a iniciativa que
promoveu, no último fim
de semana, uma festa para homenagear a autora
da novela, Ana Maria Moretzsohn. "O importante
não é o conteúdo, mas a
divulgação da área", diz.
"As pessoas que vivem
aqui são pobres, temos
problemas de segurança,
de iluminação e de esgoto.
A Globo mostra uma Lapa asséptica, parece até
que o bairro fica dentro
do Leblon (zona Sul)", diz
a historiadora Cláudia
Oliveira, 40, moradora do
lugar há oito anos.
Moretzsohn, uma frequentadora dos bares e
casas de shows da Lapa,
não se incomoda com as
críticas. "Novela é ficção,
não é documentário. Não
há a menor pretensão de
ser fiel, apenas de ser
verossímil. Pegamos a
essência do bairro, em
seu passado e na atualidade. Fizemos a Lapa
que nós acreditamos
que já existiu e que
possa novamente existir. Eu quero que as
pessoas se mobilizem",
diz a autora.
E, realmente, há
quem veja traços da
Lapa do passado na
novela. É o caso do
aposentado Alberto
Nunes Pereira, 60 anos
e há 18 no bairro. "Os
moradores antigos dizem que a novela tem
muito da vida que eles
levavam quando eram
pequenos", conta.
Rafaela Pimenta, 25,
moradora de um velho
cortiço do bairro, acha
que a novela parece ser
ambientada em outro
lugar. "Os personagens
são muito diferentes
das pessoas daqui. A
vida real é muito mais
dura."
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