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Farol alto
EDUARDO SODRÉ eduardo.sodre@grupofolha.com.br
De volta a Detroit
Pelas janelas do People Mover, o trem suspenso que circula pelo anel central da cidade, vemos a parte viva
Grace Lieblein saiu apressada de sua última entrevista como presidente da General Motors do Brasil. "Preciso encontrar uma casa aqui", disse ela, que assumirá a vice-presidência de compras do grupo. A conversa aconteceu em Detroit, às vésperas do salão.
A executiva retorna à cidade onde prédios antigos com paredes de mármore africano contrastam com quarteirões fantasmas e suas casas parcialmente queimadas. Grace terá de ir longe se quiser um bom endereço.
A opulência e o caos fazem múltiplas fronteiras em Detroit. Pelas janelas do People Mover, o trem suspenso que circula pelo anel central da cidade, vemos a parte viva do local.
Passamos pelo Renaissance Center, sede administrativa da GM, cuja grande fachada envidraçada já foi destruída em meia dúzia de filmes. Vemos também o estádio do time de hóquei Detroit Red Wings e o bairro Greektown. Há pouca gente nas ruas, algo esperado para um dia com temperatura abaixo de zero.
De carro, rumo à vizinha Troy, surge a parte morta. Em alguns trechos, os únicos sinais de existência humana são os outdoors suspensos com propagandas de escritórios de advocacia e pedidos de doações para ex-combatentes.
Alguns quilômetros adiante, a cidade ressurge. Mansões com três carros na garagem e grandes jardins revelam aonde foi parar a elite financeira da região.
Grace achará bons imóveis por lá, embora tenha de dirigir por cerca de meia hora até chegar à sede a empresa. No caminho, verá o cenário que descrevi, não muito diferente da cidade que conheci há dez anos.
Ainda assim, algo mudou. A indústria automotiva americana reagiu após três anos difíceis e voltou a contratar, oferecendo salários menores que antes. Motorcity, como é conhecida a região que reúne as principais fábricas da GM, da Chrysler e da Ford, sobrevive.