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Peritos ensinam a verificar, pelas marcas de um acidente, quem provavelmente é o responsável pela batida
De quem é a culpa?
ANA PAULA DE OLIVEIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Pelo menos uma vez na vida algum motorista já se envolveu ou
presenciou uma batida de automóvel. Quando isso ocorre, começa uma discussão interminável: afinal, de quem foi a culpa?
É um tanto raro o motorista assumir a responsabilidade integralmente, mesmo estando claro
que foi ele quem provocou a batida. Nessa hora, entram em cena
peritos que analisam os vestígios
do acidente para comprovar e
identificar o causador da colisão.
Protagonista de um dos raros
casos em que o motorista assume
a culpa, o comerciante Mauri
Querino de Moraes, 55, dirigia
sua picape Ford Ranger por uma
movimentada avenida de São
Paulo. Foi quando, distraído, bateu na traseira de um Fiat Siena.
Moraes assumiu a culpa, mas
não sozinho. Procurou responsabilizar um carro policial que tentava ultrapassá-lo. "Fiquei tão
preocupado com a viatura tentando me passar que perdi a concentração e bati no veículo da frente."
"Ele foi gentil, assumiu a culpa,
mas minha vida se tornou um inferno. Só daqui a um mês terei
meu carro de volta", lamenta a
motorista do Siena, que não quis
ser identificada pela reportagem.
Já a estudante de arquitetura
Carolina Maria Lopes, 23, não teve a mesma sorte quando um motociclista atravessou o cruzamento sem prestar atenção e destruiu
a lateral de seu Chevrolet Corsa.
"Além de ser culpado, estar
disputando racha e não usar
capacete, o piloto me ameaçou,
dizendo que era para eu assumir
a culpa", conta. "Conclusão: estou
sendo processada por ele."
Testemunhas que somem
Em casos nos quais fica uma palavra contra a outra, a melhor (e
mais difícil) saída é convencer alguma pessoa que tenha presenciado a batida a testemunhar.
Segundo o delegado Manoel
Camassa, do Depatri (Departamento de Investigação sobre Crimes Patrimoniais), porém, "ser
testemunha hoje é sinônimo de
dor de cabeça e perda de tempo".
Mas também não é um bicho-de-sete-cabeças. A testemunha
não precisa comparecer imediatamente à delegacia. Basta fornecer dados pessoais -carteira
de identidade e endereço- e não
há necessidade de ser maior
de idade. Só depois ela deverá
ir ao tribunal de pequenas cau-
sas para prestar depoimento.
Se pudesse voltar atrás e convencer alguns estudantes a provar
que estava certa, a jornalista Patrícia Larsen, 23, não teria de arcar
com o prejuízo de R$ 1.500 causado por um caminhão que raspou
a lateral de seu Fiesta ao tentar ultrapassá-la pelo acostamento.
"Fui boazinha e deixei para
fazer o boletim de ocorrência no
dia seguinte, pois o caminhoneiro
estava com pressa. Em vez de
assumir a culpa, conforme o
combinado, ele disse à polícia
que eu estava no acostamento.
Deixei para lá." Uma análise técnica teria resolvido o problema.
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