São Paulo, domingo, 13 de julho de 2008

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Retrô, Challenger dá fama instantânea

Com exterior dos anos 70, Dodge chama a atenção por onde passa, mas mantém consumo elevado dos V8

LAWRENCE ULRICH

DO "NEW YORK TIMES"

Uma semana dirigindo o Dodge Challenger SRT8 faz as pessoas simpatizarem com a fama instantânea dada por programas de TV. Todos querem tirar uma foto. Estranhos fazem perguntas íntimas. Sorrindo, contam histórias nostálgicas quando você encosta num posto para abastecer.
A parte boa é que o Challenger SRT8, cujas linhas vindas diretamente dos anos 70 materializam multidões ao seu redor num piscar de olhos, deixará para trás quase qualquer caçador com uma rápida cantada de seus enormes pneus.
Mas a parte ruim é saber quanto tempo vai durar o "calor" do Dodge. Ele terá poder permanente ou é apenas uma seqüência na atual temporada de "muscle cars"?
A Ford começou a guerra com o Mustang 2005, atualizando o estilo dos modelos de 1967 a 1969 -aclamado pela crítica e um enorme sucesso de vendas. A Chrysler e a General Motors pareceram forçadas a responder: a GM vai completar o último branco dessa rivalidade histórica no ano que vem, com o Chevrolet Camaro.
É claro que os planos para esses carros foram traçados antes de, nos EUA, o litro da gasolina passar de US$ 1. Agora, com os americanos comprando carros mais econômicos, a Chrysler já ajusta a mensagem de marketing do Challenger para enfatizar o estilo, e não a potência.
Com 425 cv (cavalos), o Challenger SRT8 tira a poeira dos seus antecessores -incluindo o legendário motor Hemi.
A primeira amostra do efeito do Challenger no público ocorreu num estacionamento perto do estádio dos Giants, em Nova Jersey. Dezenas de máquinas novas e "vintages" apareceram, incluindo uma unidade da nova geração do Dodge Charger, sedã com quatro portas que cede a plataforma para o Challenger.
"É o carro do Barrett-Jackson?" era uma frase comum, referindo-se ao primeiro Challenger produzido, leiloado pela Barrett-Jackson em janeiro e arrematado por US$ 400 mil.
Num parque estadual em Nova York, Mike McMahon pulou de seu Audi A4 para avaliar o Challenger. "Não gostei do desenho de quatro portas do Charger, mas se redimiram."

Brinquedo
O investimento começa com US$ 2.100 com o imposto cobrado de glutões de gasolina. E há uma sede por combustível "premium": o Challenger registrou a média de 6 km/l, o que significa que alguém que rode menos de 25 mil quilômetros por ano gastaria US$ 4.500.
Todas as montadoras têm o mesmo discurso: "Fazemos apenas algumas unidades"; "A maioria dos proprietários só usa os "muscle cars" como brinquedos no fim de semana"; "As pessoas pagam por uma diversão nostálgica". Todas as desculpas são razoáveis, mas repetidas à exaustão.
O interior do Challenger é outro pequeno desapontamento, pois pouco combina com o ar retrô do exterior. Os designers parecem ter jogado um par de bancos esportivos e um volante da Chrysler, dona da Dodge -como se sua mãe fosse convidada para um racha.
De fato, o Dodge transporta qualquer motorista para um filme de ação dos anos 70. Tudo o que você precisa é um bigodão e óculos espelhados -para as mulheres, microshorts.
Brincadeiras mais arriscadas são encorajadas pelo computador de bordo, quase um videogame. Ele permite que o motorista teste sua habilidade contra o relógio. Pisca seu melhor resultado para tudo, da aceleração de 0 a 100 km/h (menos de 5s, segundo a Dodge) às distâncias de frenagem, num desafio constante de superação.

Museu
Com grande chance de se tornar item de colecionador, o Challenger só terá 6.400 unidades produzidas na versão SRT8 no seu primeiro ano -em 1970, foram construídos 350. Há outras duas versões mais baratas e econômicas: uma com motor V6 (seis cilindros em "V"), de 250 cv, e outra V8 (370 cv).
Olhando para 2040, quando carros elétricos talvez sejam comuns e a gasolina atinja o preço da platina, o Challenger pode se tornar uma genuína peça de museu. Uma memória do que foi um "muscle car" americano no começo do século 21.


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