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VIDA DURA
Obrigados a ficar mais de dez horas em pé, meninos e meninas reclamam de calor, de calosidades e de enxaqueca
Modelos ganham salário, cantadas e calos
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Você vem junto com o carro?"
Essa é uma das cantadas mais ouvidas pelas mulheres e homens
que trabalham como recepcionistas nos estandes do Salão de São
Paulo. "A gente disfarça. Dá um
sorriso sem graça", conta Nívea
Gonçalves, 18, recepcionista no
estande da General Motors.
Entre outras reclamações, estão
o calor e o salto dos sapatos. "Vou
ficar 12 horas em pé com um sapato menor que o meu pé, que já
está inchado", reclama Francieli
Santos, 18, da Ford. A modelo
Amália Munhoz, 19, da BMW,
que fica sob holofotes, apresentou
alergia nos braços de tanto suar.
"As meninas dos estandes são
as que sofrem mais com a alta
temperatura. Desde dor de cabeça
até calosidade nos pés", diagnostica Alessandro Abreu, médico
responsável pelo pronto-socorro
instalado no Anhembi.
"As roupas são desconfortáveis
e, se estivéssemos com um salto
mais baixo, por exemplo, ficaríamos mais descontraídas e atenderíamos melhor o público. Além
disso, temos de chegar três horas
antes para a maquiagem, o que é
um exagero", diz uma modelo
que preferiu não se identificar.
Luciana Teixeira, 20, da SsangYong, afirma que já sofreu muito
com sapatos de números menores ou maiores e agora chega para
trabalhar prevenida. "Geralmente
trago um sapato de casa, para não
ter problemas."
No que diz respeito a cantadas,
muitas contam que os homens
pensam que são garotas de programa. Segundo elas, algumas,
que realmente fazem programas,
criaram a fama.
Homens
Está cada vez menos raro ver
modelos masculinos ciceroneando visitantes no salão. Antigamente, a proporção era de 20 meninas para 5 meninos. Hoje há estandes, como o da Citroën, em
que a divisão está meio a meio.
"No outro salão trabalhei como
garçom e neste fui chamado para
atuar na recepção. Apesar de já
estar acostumado com feiras, tive
de fazer treinamento para aprender tudo sobre os carros", explica
Weldes Micheletto, 26, modelo da
Citroën.
Na maior parte, os homens ainda servem como apoio das mulheres na hora de explicar melhor
algum detalhe ou sanar as dúvidas de um visitante. Mas quem
em geral faz a apresentação inicial
do carro ainda são as garotas.
"Eles preferem falar com elas",
afirma Ivan Mezalira, 20, que está
trabalhando pela primeira vez no
salão, junto com sua irmã, Ana
Rita Mezalira, 18. Ambos estão no
estande da Jaguar.
Como acontece com as mulheres, os homens também recebem
cantadas das visitantes, mas eles
dizem que estão preparados para
encarar a situação.
"Chegou uma mulher perguntando sobre o carro e, depois que
expliquei, ela disse que eu era bonito", conta Cristian Boolin, 20,
modelo da Citroën.
Segundo Mezalira, em um outro evento, uma mulher deu um
cartão de crédito para ele gastar
"quanto quisesse". Sua irmã confirma a história.
A Volkswagen optou por contratar estudantes universitários
para trabalhar como recepcionistas. Ao todo são cem estagiários,
entre homens e mulheres, que
participaram de um treinamento
de um mês dentro da fábrica para
estarem preparados na hora de
apresentar os carros.
"Eu faço engenharia na Unip e
para mim é mais fácil falar sobre
esse assunto", explica Carlos
Henrique Felippe, 25, estudante.
Ele afirma também que está bem
preparado para tirar todas as dúvidas sobre os carros.
(GN e LS)
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