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NA PONTA DO LÁPIS
Para compensar a compra de uma S10 ante a versão a gasolina, é preciso andar 150 mil quilômetros
Diesel só interessa para quem roda muito
JOSÉ AUGUSTO AMORIM
EDITOR-ASSISTENTE DE VEÍCULOS
Por ser mais econômico e mais
barato que a gasolina, o diesel ganha cada vez mais adeptos. Só no
mercado de picapes médias, ele é
responsável por 94% das vendas,
contra os 80% que representava
até 1999. Mas, incorporado às picapes pequenas, os motores flexíveis foram os mais vendidos no
Brasil, com 42.422 unidades no
primeiro semestre deste ano.
Pela legislação brasileira, o diesel só pode ser queimado em motores de veículos com peso bruto
(veículo mais carga) de, pelo menos, 1,5 tonelada, o que exclui os
automóveis de passeio. Em países
europeus, como a Áustria, 80%
dos compradores optam por esse
combustível. Nos EUA, há uma
certa pressão para aumentar seu
uso, em especial nos jipões.
Isso significa que, nas revendas
nacionais, as opções se limitam a
picapes e utilitários esportivos, a
maioria importada. Mas, antes de
decidir a motorização, é bom fazer as contas. Em geral, os modelos a diesel são mais caros. Mesmo
consumindo menos, podem não
ser sinônimo de bom negócio.
A diferença de preço entre um
Chevrolet Blazer a gasolina e a
versão a diesel -que incorpora
tração nas quatro rodas- é de
50,1%. Para "empatar" o dinheiro
gasto, é preciso rodar 324 mil quilômetros, ou fazer quase 122 vezes
a viagem de São Paulo a Recife.
No caso de uma Chevrolet S10, a
distância cai para 150 mil quilômetros -quem roda 1.000 km
por mês precisa esperar 12,5 anos.
"Se o consumidor pagou menos, ele poderia aplicar a diferença. Só o rendimento já cobre o
combustível, é como se a gasolina
saísse de graça", calcula o professor de matemática financeira José
Dutra Vieira Sobrinho.
"A versão a diesel é mais cara
pois o motor precisa ser mais resistente. Por não ter vela, a taxa de
compressão é altíssima", explica
Antonio Baltar, gerente de marketing de picapes da Ford, que
produz o propulsor a gasolina da
Ranger, mas compra da International o motor a diesel. A diferença de preço entre eles é de 23,8%:
R$ 70,8 mil contra R$ 57,2 mil.
O diesel, porém, não é tão bandido assim. Há casos em que ele
vale a pena. Um SsangYong Musso custa R$ 90 mil com ele e R$
108,2 mil a gasolina. Além da economia na compra, o utilitário
consome menos: faz a média de
7 km/l na cidade e 10,9 km/l na estrada. Com gasolina, os números
caem para 5 km/l e 7,4 km/l.
No caso do Mitsubishi Pajero
Full, o "degrau" entre o preço das
motorizações é de 0,6%. "A gasolina conta com alguns equipamentos a mais", justifica Paulo
Ferraz, vice-presidente da empresa. "O IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados] e o Imposto
de Importação são iguais."
O mesmo acontece com o Jeep
Grand Cherokee. A diesel, o Laredo não traz disqueteira nem teto
solar elétrico. Seu banco não oferece memória de posição, e os retrovisores elétricos não podem
ser rebatidos. Com tudo isso, o Limited (gasolina) custa R$ 203.656,
R$ 9.800 a mais que o Laredo.
Quem compra?
Atualmente, o agronegócio responde por 33% do PIB (Produto
Interno Bruto, soma de todas as
riquezas produzidas pelo país). E
é exatamente isso que alimenta o
mercado de comerciais movidos a
diesel. É a região Centro-Oeste
que tem os maiores índices de
venda de picapes no Brasil.
Também é mais fácil para o
agricultor usar esse combustível
pois é ele que põe em marcha tratores e caminhões. Muitas vezes,
as fazendas têm a própria bomba.
Segundo o gerente da Ford, só
3% das Ranger são a gasolina. "É
para usar na cidade. O motor é
mais silencioso." Além disso, ele
lembra que a caçamba costuma
estar vazia, o que não exige tanto
torque (força) do motor. A F-250
não tem essa opção porque é exatamente voltada ao trabalho.
O vice-presidente da Mitsubishi
afirma que, com tração 4x4, o
mercado de gasolina é muito pequeno. Por isso a decisão foi usar
só diesel para a L200 -a Nissan,
com a Frontier, seguiu a mesma
filosofia, mas oferece picapes 4x2.
Segundo Ferraz, nos utilitários
esportivos, a gasolina é preferida
por quem tem perfil mais urbano
e poder aquisitivo alto. "Quem
viaja muito ou tem propriedade
longe fica com o diesel."
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