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CÂMBIO AUTOMÁTICO
Diferenças de valores em relação aos modelos mecânicos inviabilizam disseminação do equipamento
Manter o pé esquerdo desocupado é caro
JOSÉ AUGUSTO AMORIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Calcula-se que um motorista
paulistano que dirija por duas horas diárias troque de marcha
3.000 vezes. Cansou? É por isso
que cada vez mais as montadoras
oferecem a opção de câmbio automático. O problema é que o
equipamento ainda é muito caro.
A diferença entre um carro com
transmissão manual e sua versão
automática pode passar dos 20%.
Entre os nacionais com mesmo
motor, o maior "degrau" fica com
o Chevrolet Astra. Quem quiser
deixar o pé esquerdo desocupado
paga R$ 7.797 a mais.
Mas há diferenças maiores, como a do mexicano Volkswagen
Bora. São R$ 13.336, pouco menos
que um Fiat Mille zero.
Há dois motivos para valores
tão díspares. Primeiro, as caixas
automáticas são importadas.
Além disso, "o volume ainda é pequeno para ter barateamento por
economia de escala", diz Manoel
Fernandes, gerente de marketing
do produto da Volkswagen.
No caso do Astra, há um terceiro fator. O motorista é obrigado a
comprar um pacote de opcionais,
que inclui, entre outros, banco do
motorista com regulagem de altura, ar-condicionado, faróis de neblina, alarme, luz de leitura e cinto
traseiro de três pontos.
Na linha Fiat Marea, a transmissão automática é de série na versão HLX -junto com regulagem
lombar do banco do motorista e
frisos laterais e pára-choque pintados na cor do veículo.
Mais completo
"O câmbio automático é artigo
de conforto, por isso está num
carro mais completo", explica Alberto Neumann, gerente de marketing da Renault. Apenas a Scénic 2.0 conta com as duas transmissões: "Quem se preocupa
mais com preço prefere a 1.6".
A Mercedes-Benz segue essa linha. "Não surtiria efeito ter uma
versão sem equipamentos, mas
com câmbio", afirma Roberto
Gasparetti, supervisor de marketing do produto da empresa. Na
Europa, todas as versões do Classe A podem receber o componente. No Brasil, só o A 190 Elegance.
O que todas as montadoras concordam é que o consumidor busca conforto. Ou seja, é mais fácil
"emplacar" o câmbio automático
em carros mais completos.
Na Europa, a Mercedes tem
Classe E manual, mas foi uma tentativa frustrada trazer para o Brasil Classe C assim. A VW também
chegou a importar Passat V6 mecânico, mas desistiu. Hoje, só com
o motor 1.8 turbo há essa opção.
Porém só 10% a elegem.
A Citroën desativou a linha Xsara automática, mas aposta na
transmissão em um segmento superior. Dos 1.073 C5 vendidos em
2002, só 12% foram manuais.
"Quanto mais caro, mais fácil
ter câmbio automático", atesta
Manoel Fernandes, da VW. Os
números lhe dão razão.
Neste ano, a Audi vendeu 658
A3 1.8 manual, contra 199 do automático. Com motor 1.8 turbo de
180 cavalos, fica mais de R$ 10 mil
mais caro, e a proporção dos câmbios se inverte. Em janeiro e fevereiro, foram 89 manuais, contra
229 sem embreagem.
Antigo preconceito
Além do trânsito nas grandes cidades, a queda de antigos preconceitos -como falta de desempenho e agilidade- ajuda o câmbio
automático a ganhar espaço. Talvez não haja nada mais esportivo
que um carro de Fórmula 1, que
usa esse tipo de transmissão.
"Nas últimas décadas, houve
uma evolução técnica bastante
acentuada. Os primeiros tinham
apenas três marchas", diz Geraldo
Negri Rangel, vice-presidente da
AEA (Associação Brasileira de
Engenharia Automotiva).
Para a psicóloga Neuza Corassa,
fundadora do Centro de Psicologia Especializado em Medos, de
Curitiba, não se preocupar com as
marchas dá segurança. "As mulheres se sentem mais confiantes."
Como o carro não "morre", não
é preciso temer quando se pára
em uma ladeira, por exemplo.
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